exposição de pintura de VASCO PEREIRA DA COSTA no 18º colóquio da lusofonia
Vasco
Pereira da Costa
n.
Angra do Heroísmo, 1948
Licenciado em Filologia Românica (Fac. Letras, Univ. Coimbra)
Professor aposentado do ensino secundário e do ensino superior
Doutor Honoris Causa pela Univ. de S. José (Macau)
Dir. do Dep. De Cultura, Turismo e Espaços Verdes (C.M. Coimbra – 1991-2001)
Dir. Regional da Cultura (VIII e IX Governos dos Açores)
Cônsul Honorário de França em Coimbra (1997-2001)
Escritor residente do Simpósio da Herança Atlântica (Tulare, Cal. E.U.A.)
Escritor convidado dos Colóquios da Lusofonia (2010-2011)
Membro do Conselho Diretivo da Fundação Luso-americana
Autor de obras de ficção narrativa (Prémios Miguel Torga e Aquilino
Ribeiro) e de poesia
Como pintor, usa, também, o pseudónimo de Manuel Policarpo (Exposições em
várias ilhas dos Açores e nos E.U.A.)
o escritor
Vasco Pereira da Costa é pintor, com o pseudónimo Manuel Policarpo. As suas
mais recentes Exposições de Pintura ocorreram em 12 de Junho de 2009, no Museu
dos Baleeiros das Lajes do Pico, depois na Ilha Terceira e em Outubro 2009 e em
fevereiro de 2010, nas Portas do Mar em Ponta Delgada.
Intitulavam-se As
Ilhas Conhecidas - Cartografia e Iconografia. Pintura
crítica do Espírito Santo...a estas seguiu-se em fevereiro de 2010, nas
Portas do Mar em Ponta Delgada, a exposição
Já
expôs também em
Tulare (Califórnia EUA) e na galeria Minerva, em Coimbra.
Em Outubro 2012 estará na Biblioteca Municipal de Condeixa.
Como referiu Isabel de Carvalho Garcia na exposição "Sobreposições" em
outubro 2011, na galeria da Livraria Minerva em Coimbra: "VPC cuja
mostra apresenta (trinta) quadros
e a técnica varia entre o óleo s/tela, a técnica mista s/tela e técnica
mista s/tela e madeira, impõe-se com perfeito domínio dos materiais e cores
que utiliza...Vasco Pereira da Costa que todos conhecíamos já como um
ilustre vulto da nossa literatura como escritor e poeta, surge agora como
pintor....Uma revelação pela positiva, deste notável Açoriano que engrandece
o meio artístico e cultural português."
Manuel Policarpo
Manuel Policarpo é oriundo da ilha do Pico. Com rápida passagem pela
Terceira, desde há muito que vai calcorreando o mundo. Contudo, quando lhe
perguntam onde nasceu, responde, mitificando:
nasci numa ilha
por cima do mundo.
Alardeia que é circunstância do tempo e dos espaços e que apenas caminha por
onde o levam seus próprios passos. Mas reclama a sua condição de intelectual
europeu e, por isso, mantém uma altiva distância por tudo o que é localista,
regionalista, nacionalista, com pavor por toda a manifestação chauvinista.
Vagamundeou o planeta – a Europa, antes de mais, onde descobre a latinidade e
o romanismo como essência do aprendizado; as áfricas, de que não detém nem ao
menos os cheiros; as américas que o deslumbram de Norte a Sul; as ásias que o
inebriam, mas que lhe deixam, apenas, fugazes miradas que, a custo, guarda na
memória. Reconhece, no entanto, ser ilhéu do Atlântico, reivindicando a
ancestralidade de povoador primeiro dos Açores, reproduzindo, sobretudo, por mor
de um tal capitão Thomé Gregório Ramalho, fecundador insaciável da Prainha do
Norte, e de um tal João Salinas, escravo dos religiosos de São Francisco de
Angra, putativo pai de uma pequena que vem a casar com Manuel de Barcelos, do
melhor semental do Ramo Grande da Terceira: escravo e senhor, assim organiza o
seu código genético.
Aprendeu as capacidades expressivas da cor, primeiramente com a mãe, artista
do efémero, artífice de flores de açúcar, hábil manuseadora dos corantes for
cooking effects (special effects…), que deslumbravam a burguesia angrense.
Aliás, em entrevista a um diário português entretanto desaparecido, em 1978,
considera que a gastronomia é a mais próxima arte da pintura. Mas também
aprendeu as pinceladas infantis com velhas tias, que matavam as tardes húmidas
esticando telas, bordando panos, repetindo mortas naturezas, moribundas cenas de
caça, ingénuas representações etnográficas.
Depois, partiu, sem bilhete de retorno, à descoberta de sítios, paisagens,
museus, mausoléus, poetas, escultores, pintores, gente, cidades com gente
dentro, campos infindos com alma pressentida. Correu o Vale de Santarém, Ceca,
Meca, a Casa do Diabo, o Cu de Judas, a Canada do Briado… Nunca tirou
fotografias, com a presunção de que as pupilas dos olhos estabeleceriam free
connection com os infindáveis rams da memória, e que guardaria no disco duro os
motivos essenciais do que quereria figurar. Enganou-se: reconhece, hoje, que
muito jeito lhe daria uma oficina que procedesse a um upgrade no disco duro da
moleirinha.
Nunca vendeu um quadro, vejam bem.
Afirma, no entanto, ter olhos de cartógrafo, mãos impulsivas, índole de
gravador. Experimenta, experimenta sempre, nunca estabelecendo, a priori, a
técnica que vai utilizar. Deslumbra-se com o exótico, e vai inscrevendo mapas,
rotas, mitos, símbolos…. crendo, assim simular, em síntese, o que viu em vasos
gregos, em paper-rocks indo-americanos, nos flamengos predilectos, nos
impressionistas afeiçoados, nos contemporâneos ousados. Confuso, portanto.
Por isso dele dizem: é um poseur! – alça a sobrancelha esquerda por detrás
das lentes do estigmatismo com desdenhoso trejeito perante a mediocridade e, tão
só porque peregrinou as sete partidas e já tem cãs sobejas e aprendizagens
múltiplas, nem sequer reage aos que o sussurram como diletante, cultivando uma
ironia que, por vezes, roça o sarcasmo impiedoso.
- ‘Tou-me maribando! – proclama do pico do Pico da sua altivez senhoril, do
cume da sua libertada escravidão, do topo da sabedoria que lhe concedeu o
passadio.
Nunca vendeu um quadro, mas tem uma invejada coleção de arte, que foi
construindo através de trocas com pintores conhecidos e ignorados – desde o
Camboja, Rajastão, franças e araganças, quase todas as presque-îles. E, assim,
as suas obras estão dependuradas nos muros dos quintos do mundo.
Afirmam os amigos mais íntimos que do que gosta, mesmo é da blague. E
ninguém, como ele, de um modo muito vencidista-esquerdelhista, conforme à sua
feição de incorrigível vieux soixante-buitard, négligé soigné, cultiva a amizade
seletiva, libertária, boémia e transgressora.
Donde, custa a entender por que, finalmente, resolve mostrar, em exibição, o
que tem feito. Por mim, que o conheço há perto de sessenta anos, creio que é por
amor às suas ilhíadas (ao Pico e à Terceira de afeições terrunhas,
primacialmente) e também por vínculos de fraternidade a Dimas Simas Lopes,
condiscípulo, utópico como ele que resolve sustentar uma galeria no não-lugar,
cartografado no Terreiro do Galhardo, Ladeira Branca, freguesia da Feteira, ilha
Terceira, Açores, omphalós, do planeta.
Vasco Pereira da Costa
DOCTOR HONORIS CAUSA NA UNIVERSIDADE DE SÃO JOSÉ, MACAU, 2011
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