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| Linguista português criticou Ministério da Educação pela ausência de calendário | | “Prazo de seis anos é justo” |
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O linguista português Malaca Casteleiro criticou ontem o Ministério da Educação pela ausência de um calendário para a entrada em vigor do novo acordo ortográfico no ensino de Português.
“É lamentável que, da parte do Ministério da Educação, ainda nada tenha sido dito quanto à aplicação do novo acordo”, considerou Malaca Casteleiro, à margem da cerimónia de abertura do 7º Colóquio da Lusofonia, que decorre em Bragança até domingo. O professor da Academia de Ciências de Lisboa é o patrono deste evento destinado a discutir as questões da Língua Portuguesa e da Lusofonia.
O acordo ortográfico tem sido um tema presente, com o linguista português a considerar que 2008 "tem sido particularmente importante para a promoção da Língua Portuguesa”. “Vejo este movimento muito positivo porque, pela primeira vez, ao fim de uma batalha de quase 20 anos, verificamos que os poderes públicos em Portugal e no Brasil finalmente consideraram que a Língua Portuguesa é muito importante”, considerou.
Português no centro
Para Malaca Casteleiro, o Português foi colocado finalmente “no centro da política externa dos respectivos países e também da própria CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa)". Lembrou, nomeadamente, a posição recente do Presidente português, Aníbal Cavaco Silva, na defesa da integração da Língua Portuguesa, falada por 230 milhões de pessoas, como idioma oficial de trabalho nas Nações Unidas.
O especialista só não entende a posição do Ministério da Educação luso relativamente ao Acordo Ortográfico. “Não faz sentido que as crianças que entraram este ano na antiga primeira classe não aprendam já a nova ortografia”, considerou.
“Porque é que eles hão-de estar a aprender que «óptimo» se escreve com um «p» para depois virem a suprimir o «p» daqui a dois ou três anos?”, questionou. Para Malaca Casteleiro, "é necessário estabelecer um calendário de entrada em vigor do acordo ortográfico”, admitindo, porém, que o prazo de seis anos estabelecido por Portugal “é justo para os editores se adaptarem".
Contudo, entende que, em matéria de edições, a nova ortografia vem interferir apenas com os manuais escolares, obrigando à sua imediata adaptação. Já as obras literárias, “podem ir-se esgotando na ortografia actual para, depois, em novas edições, adaptarem-se à nova ortografia”
Relativamente aos dicionários, Malaca Casteleiro defendeu que os que agora vierem a ser publicados "devem adaptar-se ao novo acordo ortográfico”. Isso mesmo, segundo disse, ocorrerá já com a segunda edição do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, trabalho que está avançado mas parado por falta de financiamento. “Mas irá, com certeza, ser retomado e concluído de acordo com a nova ortografia”, referiu.
Caixa – Língua portuguesa e os crioulos
A relação de enriquecimento entre a língua portuguesa e os crioulos é o tema central do VII Colóquio Anual da Lusofonia, que decorre entre hoje e domingo em Bragança.
O colóquio vai dedicar especial atenção à influência dos crioulos na língua portuguesa e vice-versa, uma área que está "muito pouco estudada", disse à Lusa o presidente da comissão executiva deste encontro, Chrys Chrystello.
Na sessão de abertura participam membros da Academia de Ciências de Lisboa (Adriano Moreira, Malaca Casteleiro e Artur Anselmo), da Academia Brasileira de Letras (Evanildo Bechara) e da Academia Galega da Língua Portuguesa, além do embaixador de Cabo Verde em Lisboa (Arnaldo Andrade Ramos), do escritor e artista moçambicano João Craveirinha e de especialistas em crioulos como a professora Dulce Pereira.
O acordo ortográfico estabelecido entre os países lusófonos é outro assunto em destaque no colóquio, onde serão analisados algumas das implicações práticas da sua entrada em vigor. "Só para dar um exemplo, o maior corrector ortográfico de língua portuguesa ainda não sabe quando terá uma nova versão que já contemple as alterações impostas pelo acordo ortográfico", salientou Chrys Chrystello.
Nos trabalhos do encontro destaca-se ainda uma análise sobre vários problemas relacionados com a tradução, nomeadamente o seu ensino, as inovações tecnológicas e as implicações do acordo ortográfico.
O programa inclui ainda homenagens a Vitorino Nemésio e ao Padre António Vieira, que, segundo o principal responsável pela organização do evento, "são duas figuras muito importantes da língua portuguesa que estão muito esquecidas".
Recitais de música e poesia, exposições, mostras de livros e sessões de autógrafos integram também o programa do colóquio, durante o qual será atribuído o II Prémio Literário da Lusofonia. No final dos trabalhos os participantes no encontro seguem para Santiago de Compostela, onde participam, na próxima segunda-feira, no primeiro acto oficial da Academia Galega da Língua Portuguesa. |
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