
Bragança, 02 Out (Lusa) - Uma gravação antiga de um 'tiroliro' cantado em ronga (língua tradicional moçambicana) e em português serviu hoje para o escritor moçambicano João Craveirinha defender que Angola e Moçambique "não são países lusófonos, mas bantófonos emoldurados pela lusofonia".
"Este 'tiroliro' tem uma particularidade muito especial, porque permite perceber que Angola e Moçambique não são países lusófonos, mas bantófonos (da etnia bantu) emoldurados pela lusofonia", defendeu este estudioso da Língua Portuguesa num colóquio em Bragança.
Em declarações à Lusa, no final da sua comunicação, Craveirinha frisou que "a gravação torna mais fácil provar isto", razão pela qual a apresentou aos participantes no VII Colóquio da Lusofonia, que decorre até domingo.
A gravação apresentada por João Craveirinha tem cerca de 20 anos, mas é baseada noutra gravação, feita em 78 rotações por minuto, dos anos 1950, recuperada pelo compositor moçambicano Costa Neto.
João Craveirinha, que se dedica ao estudo da sociologia da cultura e da comunicação, defendeu que "a lusofonia tem que ser reformulada".
"Acho errado quando se diz que há mais de 300 milhões de falantes de português", afirmou, acrescentando que "isso não é verdade".
Na sua perspectiva, "só contam o Brasil e Portugal, porque a maioria dos angolanos e dos moçambicanos não falam português", sendo a situação "ainda pior" no que se refere a Cabo Verde e à Guiné-Bissau, onde predomina o crioulo.
"Só em S. Tomé e Príncipe é que talvez a maioria da população fale português", salientou, numa espécie de balanço dos falantes de português nos países africanos lusófonos.
João Craveirinha, que é sobrinho do poeta moçambicano José Craveirinha, defendeu, em declarações à Lusa, que a guerra colonial é que serviu de motor de difusão do português nos PALOP, especialmente em Angola e Moçambique.
"Durante a guerra colonial, devido à necessidade provocada pela existência de um grande número de línguas totalmente diferentes entre si, a elite urbana que dirigia os movimentos de libertação nacional elegeu o português como meio de comunicação", afirmou.
Na sequência dessa decisão, "começaram a realizar-se campanhas de alfabetização de português como nunca tinha acontecido em 500 anos de presença portuguesa".
"Foram os movimentos de libertação nacional, sem dúvida nenhuma, que, por uma questão de sobrevivência tiveram que espalhar o português, que era uma língua que já estava meio feita em Angola e Moçambique", afirmou, frisando que "tinha que ser o português, não podia ser o inglês ou o francês".
João Craveirinha considerou, no entanto, que a divulgação do português por quem lutava contra Portugal "não pode ser entendida como um paradoxo", salientando que "os africanos não lutavam contra o povo português, mas contra o Estado português".
Relativamente à situação actual, assegurou que "o português não está em perigo" nos países africanos lusófonos, apresentando como exemplo o que se passa em Moçambique, onde "os jovens que saem do país preferem vir para Portugal por comodismo, porque não estão para aprender inglês".
"Enquanto Portugal está preocupado em ensinar inglês às crianças desde pequenas, em Moçambique os jovens preferem não aprender inglês por uma questão de comodismo, pelo que o português não está ameaçado", acrescentou.
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1 comments:
Angola nao fala portugues?
Este homem tem problemas.
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