Língua Portuguesa // Acordo Ortográfico: especialistas querem definição de um calendário Por: Cultura / 4 dias atrás / Secção: Imprimir Enviar a um amigo
Manuais escolares ainda não contemplam nova ortografiaO sétimo colóquio anual da Lusofonia, realizado em Bragança de 02 a 04 de Outubro, ficou marcado pelas críticas do linguista Malaca Casteleiro ao Ministério da Educação. Portugal tem um prazo de seis anos para se adaptar ao novo Acordo Ortográfico, mas da parte da tutela da educação ainda nem sequer foi definido um calendário para a adaptação dos manuais escolares e dos dicionários à nova ortografia. Para o especialista, não faz sentido nenhum que as crianças que agora entram para o primeiro ciclo ainda não aprendam o Português de acordo com as novas regras ortográficas. No entender de Malaca Casteleiro, as novas regras apenas interferem com os manuais e dicionários escolares, pois, para as restantes obras literárias, seis anos é um prazo “suficiente” para que as edições com a antiga ortografia se esgotem. O que era necessário era “estabelecer um calendário” para a entrada em vigor da nova ortografia, pois, “não faz sentido estar a publicar dicionários de Língua Portuguesa que não estejam consoante o novo Acordo Ortográfico”.
Polémica despoletada em Bragança
Toda a polémica a que se assistiu no último ano em Portugal sobre a adesão ou não ao novo Acordo Ortográfico foi despoletada em Bragança, no ano passado, durante o colóquio anual de lusofonia, conforme recordou Chrys Chrystello, da organização. Este ano, o tema voltou a estar em cima da mesa com os especialistas a exigir do Governo a definição de um calendário para a aplicação das novas regras. Para Malaca Casteleiro, alguma da oposição que existe ao novo Acordo Ortográfica só revela “dificuldade de adaptação: há pessoas que não se rendem às evidências e têm uma dificuldade enorme em se adaptar aos novos tempos, ficando presas a questões de pormenor”. O especialista recordou, a propósito, as evoluções da Língua ao longo da história, “já escrevemos física com ph e y”, e questionou “qual o transtorno de escrever óptimo sem p ou direcção sem c” visto que são consoantes mudas, que não são articuladas. “Estas alterações estão consagradas no novo Acordo Ortográfico e visam unificar, tanto quanto possível, a grafia do Português a nível internacional”, explicou. Mais importante do que isso, na perspectiva de Malaca Casteleiro, é que, pela primeira vez em quase 20 anos, os poderes públicos em Portugal e no Brasil consideraram a Língua Portuguesa “muito importante do ponto de vista internacional”. A nível mundial, o Português é falado por mais de 230 milhões de pessoas.
Português em constante evolução
Durante os quatro dias do colóquio, os vários especialistas presentes debateram ainda a influência do Crioulo na Língua Portuguesa e vice-versa, um tema pouco estudado e pouco trabalhado, na opinião de Chrys Chrystello. “A língua enriquece à medida que os crioulos se forem desenvolvendo e os crioulos desenvolvem-se da mesma forma”, considerou. Outro dos debates foi dedicado à tradução, uma área pouco valorizada, mas considerada fundamental para a divulgação dos autores de Língua Portuguesa. A tradução de obras portuguesas para outras línguas possibilita a entrada em mercados com milhares de leitores. Por isso, considera-se que é necessário “investir a sério na tradução de obras portuguesas”. Para a análise destes temas, a organização convidou os membros da Academia de Ciências de Lisboa, da Academia Brasileira de Letras, da Academia Galega de Língua Portuguesa, o escritor moçambicano João Craveirinha e outros especialistas. O encontro de todas estas personalidades em Bragança foi ainda aproveitado para homenagear escritores como Vitorino Nemésio, Pª António Vieira e Dias de Melo, que faleceu recentemente.
“Estudos Transmontanos” no IPB
A organização desafiou ainda o Instituto Politécnico de Bragança (IPB) a criar uma cadeira de “Estudos Transmontanos”. No entender de Chrys Chrystello o ideal seria que esta fosse uma disciplina extra-curricular, independente de qualquer curso ou a funcionar como pós-graduação. Ainda durante o colóquio foram assinados protocolos para que se avance com o projecto do Dicionário de Açorianismos e com a Diciopédia Contrastiva da Língua Portuguesa. O objectivo, com este último projecto, é reunir todos os termos da Língua Portuguesa usados nos quatro cantos do mundo, desde a Galiza a Timor, de Trás-os-Montes aos Açores. Esta é uma obra sem prazo para acabar, um projecto que Chrys Chrystello considera mesmo “megalómano”, mas, ao mesmo tempo, “fundamental para as pessoas perceberem que o mesmo termo pode ter significados diferentes em outras partes do mundo”. Há dois anos que 32 especialistas têm trabalhado voluntariamente neste projecto, mas não há datas para a conclusão do mesmo.
Academia Galega de Língua Portuguesa formalizada
A Academia Galega de Língua Portuguesa foi oficialmente formalizada no dia 6 de Outubro, em Santiago de Compostela, cidade para onde seguiram os especialistas que marcaram presença no Colóquio Anual de Lusofonia. Um dos responsáveis ligado a este processo, Ângelo Cristóvão, recordou que foi em Bragança, há dois anos atrás, que se começou a trabalhar na criação desta instituição. Conforme explicou, “somos espanhóis do ponto de vista legal mas falamos português porque o galego é português tal como o brasileiro, apesar de lhe chamarem assim, não deixa de ser português”. A academia irá defender o ensino do Galego tal como é falado e escrito e irá fomentar a unidade da Língua Portuguesa.
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