Bragança, 3 out (Lusa) - Uma mistura de português e dialetos locais parece estar gerando um novo idioma em alguns países africanos que tem o português como língua oficial. Alguns estudiosos temem que, se nada for feito, o português desapareça entre novas expressões.
"É um processo lingüístico, que vamos ter que acompanhar e lutar para que a língua portuguesa vença, senão aparecerá uma nova língua", disse à Agência Lusa a moçambicana Edma Sata, estudiosa do vocabulário local.
A lingüista está em Bragança, no norte de Portugal, para divulgar o trabalho de recolha do léxico das línguas de Moçambique no Seminário anual da Lusofonia, que acontece até domingo.
Num momento em que o novo Acordo Ortográfico para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) domina a discussão, Sata entende que, se nada for feito, "qualquer dia terá é que haver um acordo ortográfico a falar das variantes da mistura destas línguas".
"O português está muito assassinado em Moçambique, por exemplo, dizem descamisados para tirar a camisa, descabelar para cortar o cabelo, conflitar para entrar em conflito ou 'eu vou ali comprar umas jenessis, uma jeans'", exemplificou.
Realidade semelhante é a de São Tomé e Príncipe, na costa oeste africana, segundo outra estudiosa da língua, natural daquele país, Helena Lima Afonso, que tem exemplos idênticos aos da colega moçambicana.
O acesso ao ensino da língua portuguesa chegou tarde, depois do período colonial, sobretudo para as populações rurais, que sempre falaram línguas crioulas, e que passaram a transferir a estrutura dos idiomas africanos para o português.
"Daqui surgiu um português muito diferente do europeu com muitas interferências das línguas crioulas", consideraram.
"Mesmo os professores falam com essas interferências e passam para os alunos", contou Helena Lima Afonso.
Edma Satar tem exemplos de crianças que conhece, que falavam bem o português até irem para a escola e começarem a adquirir os novos termos.
Tanto para Helena, como para Edma, só será possível combater a situação apostando mais na formação dos professores e no incentivo à leitura e para isso, entendem que seria importante também contar com o apoio de Portugal.
Os veículos de comunicação tentam contribuir, mas a lingüista moçambicana lamentou que, por exemplo, no seu país os programas sobre a língua portuguesa passem na televisão em horários em que as crianças ou estão na escola ou na rua.