para que servem os acordos ortográficos, se a línga portuguesa (europeia) desaparecer? venha saber o que se vai debater no 6º colóquio anual da lusofonia

Notas para o V Colóquio Anual da Lusofonia


Chrys Chrystello

Quando em 2001 preparámos o início dos Colóquios Anuais da Lusofonia – sob a égide do nosso patrono José Augusto Seabra – queríamos provar que era possível descentralizar a realização destes eventos e que era possível realizá-los sem sermos subsídio-dependentes. O ponto de partida foi a descentralização da discussão e das problemáticas da língua portuguesa no mundo.
De 2002 em diante, os Colóquios têm-se realizado em Bragança, graças ao apreciável apoio da câmara municipal na sua aposta de combate à insularidade em termos culturais. Portugal, como toda a gente sabe, é um país macrocéfalo; cada ano que passa existe mais Lisboa e o resto confina-se apenas a paisagem. É muito raro os locais do interior, os mais remotos como Bragança, poderem ter acesso a debates e muito menos duma forma continuada a acontecimentos de considerável importância sobre o futuro da língua. Com a saída de serviços vitais à fixação de pessoas no interior, com a diminuição da população escolar, a falta de atracções a nível de emprego, com todos os poderes decisórios radicados em Lisboa, cidades como Bragança estão por vezes mais perto de Madrid do que de Lisboa. Tentando lutar contra essa tendência, conseguiu-se que estes colóquios se tornassem graças à nossa persistência na única iniciativa, concreta e regular em Portugal nos últimos cinco anos sobre esta temática
A intenção destes colóquios é diferente da maioria das realizações congéneres. Continuam a caracterizar-se pela sua completa independência de quaisquer forças políticas ou institucionais e asseguram essa sua “independência” através do simbólico pagamento das inscrições de oradores e participantes presenciais, contando com o importante apoio, ao nível logístico, da autarquia que fez a sua aposta cultural na divulgação e realização deste importante evento anual e a ela se associa na componente lúdico-cultural. Essa sua independência e o seu carácter não-subsidiado permitem viabilizar a participação de um leque alargado de oradores, desassombrados, sem peias, sem temores nem medo de represálias dos patrocinadores institucionais sejam eles governos, universidades ou meros agentes económicos. Os encontros e conferências de formato tradicional são reuniões em que o final há uma acta cheia de boas intenções com as conclusões. Os nossos colóquios que em 2002 inovaram e introduziram o hábito de entregar os CD com as Actas no início das sessões, visam aproveitar a experiência profissional e pessoal de cada um dentro da sua especialidade e dos temas que estão a ser debatidos, para que os restantes oradores possam depois partir para o terreno, para os seus locais de trabalho e utilizarem esses instrumentos que já deram resultados noutras comunidades. Ou seja verifica-se a criação de uma rede informal que permitiu um livre intercâmbio de experiências e vivências, que se prolongou ao longo destes cinco, muito para lá do colóquio em que intervieram.
Estes Colóquios podem ser ainda marginais em relação às grandes directrizes aprovadas nos gabinetes de Lisboa ou de Brasília, mas na prática têm servido para inúmeras pessoas aplicarem as experiências doutros colegas à realidade do seu quotidiano de trabalho com resultados surpreendentes e bem acelerados. Em 2004 fizemos a campanha que ajudou a salvar o Ciberdúvidas, em 2005 assistimos ao lançamento do OBSERVATÓRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA e em 2006 foi a vez da ACADEMIA GALEGA DA LÍNGUA PORTUGUESA. Em 2007 assinala-se o início do Prémio Literário da Lusofonia patrocinado pela Câmara Municipal de Bragança. Igualmente vai ter seguimento a concretização desse grande projecto que é a Diciopédia ou Dicionário Contrastivo da Língua Portuguesa.
Por outro lado, saliente-se que com o carácter independente dos Colóquios, as actividades paralelas crescem de ano para ano, bem como a sua componente lúdica-cultural, que permitem, algo que não sucede em eventos deste tipo: a confraternização cordial, aberta, franca e informal entre oradores e presenciais, caracterizada por almoços e jantares de dezenas de pessoas e passeios [ no passado ao Parque Natural de Montesinho, Rio de Onor e à Cidadela, e a Miranda do Douro (desde 2006)] em que do convívio saíram reforçados os elos entre as pessoas, que se irão manter a nível pessoal e profissional. Todos os anos os participantes puderam trocar impressões, falar de projectos, partilhar ideias e metodologias, fazer conhecer as suas vivências e pontos de vista, alargando esta rede informal que são os Colóquios Anuais da Lusofonia.
Como atrás dissemos, pelo quinto ano consecutivo, teremos o apoio inequívoco da Câmara de Bragança que para além do 1º Prémio da Lusofonia vai entregar em livro as Actas dos últimos 4 Colóquios. Igualmente se irão manter as actividades paralelas (de extremo sucesso em eventos anteriores) como LANÇAMENTO DE LIVROS, RECITAIS DE MÚSICA, PEÇAS DE TEATRO, EXPOSIÇÕES DE FOTOGRAFIA, EXPOSIÇÕES DE PINTURA, FILMES E DOCUMENTÁRIOS, uma Mostra de Artesanato de artesãos transmontanos e e uma Mostra de Livros de autores portugueses (e de mirandês), numa demonstração da lata abrangência destes Colóquios. O tema central de 2007 é a Língua Portuguesa no século XXI: a variante brasileira rumo ao futuro. O risco real da separação ou não. Unificação ou diversificação: esta a agenda para as próximas décadas. O Colóquio da Lusofonia 2007 irá debater a possibilidade de a variante brasileira se tornar numa língua própria e suas consequências, análise da situação, desenvolvimentos nos últimos anos, projectos e perspectivas presentes e futuras. Incluímos um tema especial este ano para celebrarmos o centenário do nascimento de Miguel Torga. Por último, (como é habitual todos os anos) debateremos os problemas da Tradução, instrumento para perpetuar a Língua Portuguesa e manter a sua criatividade nos quatro cantos do mundo. Para o Colóquio deste ano (com a duração de 4 dias) pretendeu-se chamar à ribalta a problemática do Acordo Ortográfico e a variante brasileira no século XXI. Estão inscritos quase 60 oradores de todo o mundo.
O Colóquio da Lusofonia 2007 irá debater o perigo de a variante brasileira se tornar numa língua própria e suas consequências, análise da situação, desenvolvimentos nos últimos anos, projectos e perspectivas presentes e futuras. Incluímos um segundo tema (este ano) para celebrarmos o centenário do nascimento de Miguel Torga. Por último, em debate estarão (como é habitual todos os anos) os problemas da Tradução, instrumento para perpetuar a Língua Portuguesa e manter a sua criatividade nos quatro cantos do mundo. Um vasto painel de peritos nestas áreas debaterá estes temas.
A diversidade cultural, onde se insere a diversidade linguística, é um elemento fundamental da riqueza patrimonial de um povo. Interrogar essa realidade entre nós, é chamar a atenção para a necessidade de valorizar a diferença e a tolerância, aprofundando a democracia cívica. Portugal renegou durante muito tempo essa realidade. Hoje, lentamente, acorda para ela, mas o fato parece ainda não lhe assentar à medida, desconhecendo que assim se empobrece e dá uma imagem menos rica e menos democrática de si mesmo.
Reflectir sobre esta temática é ajudar a criar condições para que as realidades chamadas “minoritárias” (apenas em sentido quantitativo) não continuem a ser, de facto, menorizadas. Mas é também reflectir sobre as bases de um novo modelo de desenvolvimento que não tenha como medida exclusiva os quilómetros de asfalto ou as toneladas de betão, já que como todos sabemos este é o único distrito do país sem um só quilómetro de auto-estradas.
Iremos debater a problemática da Língua Portuguesa no Mundo, não somente em termos das suas formulações históricas e teóricas mas e sobretudo, analisar as suas modalidades práticas com as necessárias correspondências em articulação com outras comunidades culturais, históricas e linguísticas lusófonas como agentes fundamentais de mudança.
Este ano foi possível trazer a Bragança dois académicos de alto gabarito, irremediavelmente ligados aos Acordos Ortográficos e à evolução da Língua Portuguesa. Trata-se dos professores Malaca Casteleiro da Academia de Ciências de Lisboa e de Evanildo Bechara da Academia de Letras do Brasil.
Queremos ainda chamar a atenção para o vasto leque de actividades paralelas agendadas para este ano: 3 recitais inéditos de música e duas peças de teatro que se estreiam em Portugal, para além de exposições de fotografia, pintura e de documentários televisivos.
(Todas as informações e inscrições podem ainda ser feitas na nossa página http://lusofonia2007.com.sapo.pt )
Nestes colóquios temos vindo a alertar para a necessidade de sermos competitivos e exigentes. Sempre afirmei que não podemos nem devemos esperar pelo Estado ou pelo Governo e tomarmos a iniciativa em nossas mãos. Assim como criamos estes Colóquios, também cada um de nós pode criar a sua própria revolução, em casa com os filhos, com os alunos, com os colegas e despertar para a necessidade de manter viva a língua de todos nós. Sob o perigo de soçobrarmos e passarmos a ser ainda mais irrelevantes neste curto percurso terreno. Urge pois apoiar uma verdadeira formação dos professores da área, zelar pela dignificação da língua portuguesa nos organismos nacionais e nos internacionais dotá-los com um corpo de tradutores e intérpretes profissionalmente eficazes. Jamais podemos esquecer que a língua portuguesa mudou através dos tempos, e vai continuar a mudar. A língua não é um fóssil. Também hoje, a mudança está a acontecer. Nas comunidades PALOP as novas gerações falam os dialectos locais e aprendem inglês relegando o Português para níveis residuais, porque poucos são os que têm orgulho de falar Português.
Portugal e Brasil continuam a valorizar o acessório e a subestimar o essencial. O tão apregoado Acordo Ortográfico, começa a suscitar dúvidas e opiniões diversas como veremos nalguns dos temas a debater este ano. Tal como em França se tem provado, a língua não se faz por decreto mas sim por vontade popular, é a mais democrática das armas, e é o povo quem a domina. Devemos deixar que a língua siga o seu rumo natural e seja cada vez mais viva em vez de a amordaçarmos a Acordos Ortográficos. A língua não se decreta! Todos nos entendemos mesmo com grafias diferentes. A língua deve evoluir ao sabor de cada país com palavras distintas, grafias e vivências diferentes.
Os portugueses e brasileiros não têm uma verdadeira política da Língua, e não conjugam objectivos através duma CPLP adormecida enquanto franceses e ingleses estão bem activos. O actual impacto mundial da língua portuguesa existe sobretudo por acção dos outros. A R. P. da China prepara os seus melhores quadros para dominarem a língua portuguesa e desta forma conquistarem os mercados lusófonos, especialmente em África onde a Europa e o resto mundo nada viram de aproveitável além das riquezas minerais.
Irá depender sobretudo do esforço brasileiro em liderar que a Lusofonia poderá avançar, levando a reboque os países africanos ainda cheios de complexos do colonizador Portugal. A língua portuguesa é alimentada de forma diferente de acordo com as realidades sociais, económicas, culturais dos países onde está instituída, geograficamente distantes uns dos outros. A Língua Portuguesa pode ser o veículo de aproximação entre os países lusófonos e as comunidades lusofalantes em todos os continentes. No entanto vivemos de costas voltadas uns para os outros. Por motivos políticos, por medo de invasões passadas e futuras, crescemos ignorando o drama dos nossos irmãos lusofalantes da Galiza.
Os Colóquios cresceram e na sua Comissão Executiva (Permanente) estão agora também o Professor Sobrinho Teixeira, Presidente do Instituto Politécnico de Bragança, o Professor Onésimo de Almeida da Universidade Brown (EUA), Dr Ângelo Cristóvão, da Galiza e a Dra. Regina de Brito do Brasil, coordenando várias vertentes dos colóquios naquelas regiões e países.
A terminar quero referir que este ano (dentre mais de uma centena) seleccionaram-se 57 oradores, o que é um número recorde de participações desde sempre. Estão representadas dezenas de entidades e Universidades de Portugal, Brasil, Nigéria, Roménia, Espanha:
1. Faculdade De Letras Universidade “BABES-BOLYAI”, CLUJ; ROMÉNIA,
2. UNIR Universidade Federal de Rondónia, Vilhena
3. Universidade de Aveiro, Santiago. Brasil,
4. Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Brasil,
5. Portuguese Unit, Dept. of Foreign Languages, Lagos State University, Ojo, Lagos Nigéria ,
6. Liceu IES Salvador de Madariaga, Acrunha / Coruña) Galiza,
7. Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil,
8. Universidade de S. Paulo, Brasil,
9. Instituto Galego de Estudos de Segurança Internacional e da Paz (IGESIP), Galiza ,
10. Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, Brasil,
11. Pontifica Universidade Católica, São Paulo, Brasil,
12. Universidade do Minho, Braga, Portugal,
13. PPGLL, Universidade Federal de Alagoas, Brasil,
14. UID, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Porto,
15. FCSH Universidade Nova, Lisboa,
16. Universidad de Alcalá, Madrid (Espanha),
17. UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), Vila Real, Portugal,
18. Associação de Amizade Galiza-Portugal, Galiza,
19. Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, Braga, Portugal,
20. Escola Superior de Educação de Coimbra Portugal,
21. Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal,
22. Escola Superior de Educação de Bragança, Instituto Politécnico de Bragança, Portugal,
23. Colégio Pequeno Príncipe, Mossoró RN e UEPB/FUNESO/UFPB(PROLING), Recife, Brasil,
24. Universidade de Franca / Universidade de Taubaté, Brasil,
25. Departamento de Linguística e Literaturas, Universidade de Évora, Portugal,
26. AGAL (Associaçom Galega da Língua) Galiza, Universidade de Vigo, Galiza,
27. Instituto Superior de Contabilidade e Administração, Instituto Politécnico do Porto Portugal,
28. Centro de Estudos Comparatistas Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa Portugal,
29. Departamento de Línguas e Cultura, Universidade de Aveiro, Portugal, e especialmente a presença do
30. Professor Doutor Evanildo Bechara (Academia Brasileira de Letras) e
31. Professor Doutor Malaca Casteleiro (Academia de Ciências de Lisboa).


http://lusofonia2007.com.sapo.pt

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Crónica anteriores:

Bragança capital da lusofonia por 4 dias
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Crónica 2
Manifesto para uma lusofonia universal