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  - 8º Colóquio da Lusofonia e I Prémio Literário da Lusofonia - BRAGANÇA 3-6 outubro 2007

 A MINHA LEITURA DUMA HISTÓRIA SOBRE BRAGANÇA,  © J. Chrys Chrystello                   regressar página anterior 

01. BRAGANÇA

Queria partilhar convosco um pouco desta terra cheia de história. Segundo muitos escritores Bragança foi fundada por Brigo lV, rei de Hispânia, no ano de 1096 antes de Cristo. O douto Abade de Baçal, porém, reputa essas afirmações dado como lendária a existência desse rei Brigo. A princípio chamava-se Celobriga, mais tarde Brigâncio ou Brigância. No tempo dos romanos Bragança já era uma cidade de grande importância, a que Augusto César pôs o nome de Julióbriga (em homenagem a seu tio Júlio César), que a tinha re-edificado e fez município do antigo direito latino." (Dr. Rocha Martins 1889). Não se julgue que não houve outras Brigancias. Quicherat regista uma cidade Brigantia na Gália Cisalpina (hoje Briançon), e também Brigantia, cidade da Vindelícia, região entre os Alpes e o Danúbio. Todas essas Brigantiae devem ter origem celta. Brigantia passou a Bragança por meio da forma Bregança. Talvez que a forma Braga ajudasse a passar Bregança para Bragança. (Prof. Dr. Vasco Botelho do Amaral - 1949). A primeira povoação, bastante importante, foi fundada anteriormente à era cristã. A antiga Cidade de origem neolítica, foi posteriormente um importante centro romano localizado na zona atual da Sé. Às invasões bárbaras sucederam-se as guerras entre mouros e cristãos e a Bragança primitiva desapareceu permanecendo enterrada até hoje, conforme escavações do programa Polis demonstraram, com inúmeros vestígios que ora podem ser observados em mostra na sala de exposições aqui neste piso.

Durante as guerras entre cristãos e mouros foi saqueada e ficou completamente arruinada, tendo sido reconstruída no século XII, no local onde se encontra atualmente. Pelos meados do século X, (contemporaneamente, portanto, ao repovoamento da região vimaranense pelo conde Ermenegildo Gonçalves e por sua consorte, a célebre Mumadona) as terras de Bragança eram senhoriadas por um irmão daquele, o conde Paio Gonçalves. Com o andar dos tempos, essa tenência veio a encabeçar-se num dos ramos dos Mendes. Em Julho de 1128 senhoriava-a Fernão Mendes, cunhado de Afonso Henriques, que um documento de 7 de Julho desse ano mostra integrado na corrente política de apoio ao movimento de independência. No fim desse século, em 1199, as desavenças de D. Sancho I com o rei de Leão (Afonso IX) – motivadas por razões políticas e acentuadas por ter este repudiado sua esposa, a infanta D. Teresa, filha do monarca português – estenderam a luta a Bragança, sofrendo a terra, e as fortificações então porventura existentes, os efeitos do cerco posto pelo rei leonês, até serem disso libertadas pela ação de D. Sancho.

 Aquando da restauração da cidade em 1130, os coevos de então escolheram um local diferente, no cimo dum outeiro a centenas de metros da anterior cidade. Ali se viria a edificar a famosa Domus Municipalis, precioso exemplar da arquitetura românica portuguesa do século XIII. Nascida em território pertencente ao Mosteiro Beneditino de Castro de Avelãs por cedência de outras e quiçá mais vastas áreas, por Fernão Mendes, Bragança só em 1187, com D. Sancho I[i]  no intuito de fixar moradores vem a conhecer o primeiro foral. Ter-lhe-ia sido dado esse foral pela sua efetiva importância militar, uma vez que se situava na linha de fronteiriça com a Galiza? O foral dava-lhe grandes privilégios, tendo sido construído nessa época o castelo.

  Após o falecimento de D. Dinis, que incrementara a construção do castelo, novamente esteve este em estado de alarme. Com efeito, D. Afonso IV, subindo ao trono em 1325, logo moveu perseguição contra o mais idoso dos seus irmãos ilegítimos, D. Afonso Sanches, confiscando-lhe os bens que possuía em Portugal; e este, em defesa dos seus interesses, moveu guerra ao monarca, vindo da vila de Albuquerque, onde então residia, invadindo Portugal pela fronteira de Bragança, pondo tudo a ferro e fogo, até que, por intervenção da Rainha Santa, se fez a paz. No reinado de D. Afonso IV (1325-57), são atribuídas à vila as terças das igrejas da região "para repairamento dos muros". Este facto é confirmado numa carta escrita por D. Fernando, onde afirma que a cerca está deteriorada e a requerer muitos trabalhos, levados a cabo em finais desse século. A Torre de Menagem é construída tendo demorado 30 anos a concluir. De arquitetura gótica, distinguindo-se pela elegância as janelas em ogiva, ameias e seteiras, as suas linhas apresentam semelhanças com alguns castelos ingleses, do mesmo período.

Século e meio depois, no decurso da campanha de 1369, movida contra D. Fernando por Henrique I de Castela, Bragança foi dominada pelas tropas castelhanas que se assenhorearam da vila, tudo voltando, porém, à posse portuguesa ao assentar-se a paz de Alcoutim (1371). D. Fernando ofereceu-a como dote a uma das suas cunhadas, irmã de D. Leonor Teles. Voltou à Coroa e foi dada, como ducado, a um filho natural de D. João l, ficando então definitivamente na posse da Casa de Bragança.

Nos anos de crise dinástica e de guerra que se seguiram à morte de D. Fernando, as versatilidade políticas do alcaide João Afonso Pimentel fizeram mudar de mão, por mais de uma vez, o castelo de Bragança. Pimentel era partidário da herdeira do trono, D. Beatriz, e de seu marido, o rei de Castela. Apenas em 1386, por diligência do condestável reconheceu a autoridade de D. João I. Doze anos depois como o rei deixara sem castigo o assassinato de sua filha, D. Brites Pimentel, praticado pelo marido Martim Afonso de Melo, alcaide de Évora resolveu, como represália, voltar ao partido do monarca castelhano, e, emigrando para Castela, fez-lhe menagem do seu castelo, o qual, com a povoação, só em 1400 foi restituído a Portugal, pelo assentamento de tréguas negociado em Segóvia.

 Ducado em 1442, sendo como primeiro duque D. Afonso, (filho ilegítimo de D. João l e genro do Condestável, Nuno Álvares Pereira), tornou-se uma das mais importantes casas da Europa. Dela sairão alguns reis portugueses. Em 1455, é-lhe concedida uma feira franca, o que revela bem a importância do burgo, e D. Afonso V eleva-a à categoria de cidade em 1466. Ainda que fracamente impulsionada pelos seus duques, a cidade veio a conhecer relativo desenvolvimento com os Judeus, que nela encontravam acolhimento e "asilo quase seguro".

 Em 1464, a pedido do 2º Duque, D. Fernando de Bragança, recebe de D. Afonso V, o foral de cidade e a partir daí cresceu depressa. Em 1560 construí-se o colégio dos Jesuítas. Bragança desenvolveu-se ao abrigo do seu castelo, aninhada num terreiro de quase três hectares, defendido por uma linha de muralhas com o vértice orientado a Oeste, sentido em que cresceu o arrabalde, depois incorporado na vila. Aí, entre dois dos torreões que lhe servem de reforço, rasga-se a Porta chamada de Santo António, defendida por uma barbacã, na qual se situa, a Porta da Vila, denominação que deve ter sido anterior aquela – pois a barbacã é de construção posterior à muralha, como sugere a diversidade de estilos das referidas entradas, de volta redonda a primeira e ogival a segunda.

 

 

   

 

Na face oposta a esse lado, abria-se a Porta da Traição, habitual saída de recurso de volta para os campos, porta esta que, conjuntamente com a adjacente muralha, foi há pouco reconstruída. Na face sul, um saliente quadrangular termina pelo chamado Poço d’el-rei, construção de defesa duma cisterna, da qual lhe adveio o nome. Aqui se viria a edificar a famosa Domus Municipalis, Com uma forma de pentágono irregular, a sua singularidade não se limita à arquitetura, de que é exemplar único em toda a Península Ibérica. De origem misteriosa, os historiadores não conseguem datar com precisão a época da sua construção. Enquanto alguns autores a situam no século XII, outros defendem a teoria de que terá sido erguida no século XV, sendo o seu estilo românico civil tardio.

Outras teses atribuem-lhe uma raiz romana ou grega. Sabe-se que foi um importante reservatório de água, com um subterrâneo composto por uma cisterna abobadada, a "Sala d'Água", fazendo a cachorraria interior e exterior converter para a cisterna e sua nascente as águas pluviais. O piso térreo sem divisões tem uma bancada de granito ao longo das paredes - a "Casa da Câmara" - e serviu como lugar de reunião dos "homens bons" do concelho, a partir do século XVI. Poderá igualmente ter albergado os peregrinos que rumavam a Santiago de Compostela, já que a cidade era um importante ponto de passagem. Depois de admirada a Domus Municipalis devemos parar a admirar as janelas góticas da Torre de Menagem onde existe o valioso Museu Militar.   

Nos séculos seguintes ainda se mantiveram as vicissitudes de Bragança e de seu castelo inseridas na história geral da Nação. Em 1580, por ocasião da segunda crise dinástica portuguesa, subsequente à morte do cardeal-rei D, Henrique, foi aquela terra uma das primeiras que patrioticamente reconheceram a realeza do Prior do Crato, D. António. Em 1762, sofreu o assalto das tropas espanholas, enviadas pelo Marquês de Sarria para a invasão de Trás-os-Montes, em 1808, ergueu-se valorosamente contra o invasor napoleónico.

Situada no alto da colina da Nossa Senhora do Sardão, a Cidadela de Bragança é um dos núcleos muralhados mais harmoniosos e bem preservados de Portugal. O Castelo de Bragança é constituído por um extenso conjunto de muralhas com um perímetro de 660 metros, que formam quatro recintos individualizados entre si. Conta com quinze torres ou cubelos e outros tantos panos de muro, com a espessura média de dois metros, com três portas (duas Portas de Santo António e a Porta do Sol) e dois postigos (a Porta da Traição e o postigo do Poço do Rei). Toda a cerca é ameada e define uma planta ovalada que apresenta o seu interior orientado segundo dois eixos viários, que estabelecem a ligação entre a Porta de Santo António, que dá para a parte velha da cidade, e a Porta do Sol, a nascente. Destes dois eixos é a rua da Cidadela aquela que faz o antigo traçado entre as duas portas. O esquema desenhado tem como base a Porta de Santo António, a partir da qual irradiam duas ruas e respetivos quarteirões edificados. À esquerda encontra-se um pequeno quarteirão, interrompido pelo espaço onde se localiza o Pelourinho  e que antigamente foi ocupado pela igreja de S. Tiago. Ao centro fica o principal aglomerado populacional, que tem no seu topo a Igreja de Santa Maria (também designada de Nossa Senhora do Sardão) e a célebre Domus Municipalis.  

O lado norte, que esteve ocupado pelas instalações do Batalhão de Caçadores 3, foi arranjado e atualmente é uma ampla zona que torna a Torre de Menagem ainda mais imensa do que já é. Esta é um imóvel quadrangular de 17 m de lado e 34 m de altura, dotado de sapata de cerca de 6 m de altura. O acesso era feito outrora por uma ponte levadiça, que levava à porta que se encontra bem alta. Atualmente faz-se por uma estreita escadaria exterior, de pedra, adossada à face setentrional de um corpo saliente que serve de escudo ou couraça à própria torre. Na face sul da torre, a meia altura, está adossada uma pedra de armas com os emblemas da Casa de Avis, sinete do monarca que promoveu a edificação. Entre os elementos decorativos mais interessantes que a torre de menagem oferece contam-se as graciosas fiadas de ameias que lhe coroam o eirado e duas elegantes janelas góticas maineladas, uma na face sul outra na face este. Nas aberturas e nos cunhais, o material utilizado é o granito, com alguns blocos siglados, enquanto no recheio predomina a alvenaria de xisto. Nos ângulos superiores destacam-se quatro guaritas cilíndricas. A torre está adossada à muralha norte e obedece a um esquema que se foi tornando habitual, que é o de ver a cidadela encostada a um dos lados da muralha e não no centro.  Tem ainda defendê-la um muro com sete cubelos (três do lado nascente, três do poente e um a sul). Com a extinção, em 1958 do Batalhão de Caçadores n.º 3 que ocupava o castelo, este alberga atualmente o Museu Militar, nos cinco pisos da Torre de Menagem. Percorrê-los é ficar a conhecer um pouco mais da nossa História e ter oportunidade de refletir como todo o equipamento bélico usado antigamente era afinal tão inofensivo, se comparado com as novas armas de destruição maciça.

 

Vale a pena começar pela cripta para descer a acanhada escada de caracol até às antigas masmorras. O primeiro piso, além da cisterna, apresenta, na Sala do Gungunhana, interessantes artefactos utilizados por diversos povos africanos e a história do célebre chefe tribal que ousou desafiar o poder colonial em África. A partir do segundo piso, as exposições sucedem-se por ordem cronológica, num total de 14 divisões, desde a Sala D. Afonso Henriques até à Sala da Primeira Guerra, estando patente em cada uma, o armamento utilizado na época correspondente. Assim, às cotas de malha medievais seguem-se as bestas e armaduras quinhentistas, as espadas e mosquetes do século XVII, as carabinas e sabres do século seguinte. O primeiro conflito mundial termina a extensa coleção, com uma série de fotografias e postais mostrando soldados portugueses na frente da batalha.

No Centro da Cidadela, nas pequenas hortas rodeadas de muros baixos crescem figueiras, cerejeiras e legumes, mas a ânsia de verdura dos seus moradores não parece satisfeita pelos extensos contornos do Parque Natural de Montesinho que se avista do cimo das muralhas. Os jardins prolongam-se nas vielas estreitas, em vasos muitas vezes improvisados onde crescem flores de todas as cores. Logo que chega a Primavera, cada pedaço de solo bravio enche-se de papoilas e malmequeres, sobrevoados por bandos agitados de pardais.

Como a paisagem é rude e bravia, numa abordagem fugaz dir-se-ia que aqui só há fraguedo. Mas numa das mais importantes revoluções pacíficas que aqui ocorreram, os judeus plantaram amoreiras nos interstícios dessas fragas e no séc. XV e XVI, conseguiram o milagre de fazer de Bragança um importante centro fabricante de veludos, damascos, e outros tecidos de luxo.

Infelizmente a Inquisição mostrou-se particularmente ativa em Bragança tendo vitimado 734 artesãos segundo averiguou o sábio Abade de Baçal. Naturalmente, nem todos se deixaram apanhar e a maioria (três mil) fugiu. Os teares fecharam, a produção dos belos veludos de Bragança cessou por completo e a terra conheceu um longo e sombrio período de decadência.

 Encravada nas montanhas do Nordeste Transmontano, a antiga Bragança, olha com orgulho, do alto da sua cidadela, todos quanto a ignoram sem que a conhecerem. Apesar do gesto meio tardio e das contínuas guerras e consequentes devastações que a assolaram, Bragança – ainda que obrigada a render-se aos espanhóis em 1762 e ocupada pelos franceses em 1808 – contra todos se revolta, persistindo em continuar bastião português.

A Bragança de hoje, irmã gémea da outra celta e romana, dela herdou costumes, língua e artesanato, sempre marcados pela sua importância militar e estratégica mas sem jamais perder as suas raízes rurais bem demonstrada pela presença altiva do Parque Natural de Montesinho.  http://www.bragancanet.pt/vinhais/vslomba/pnm.html [ii].  

   

 O Castelo, com as suas duas cinturas castrenses, pelo interior das quais se estende a cidadela, hoje ainda surpreendentemente bem conservada e habitada, é um dos mais bem preservados de Portugal. Franqueando os dois arcos da entrada que não conservam já as antigas portas, depara-se-nos a altiva torre de menagem, gótica, com 33 metros de altura e 17 de base, erguida no reinado de D. João l, ao qual a praça – forte aderira com prontidão. Já não existe a ponte levadiça, mas uma enorme porta que, no entanto, não dá acesso à torre. Este faz-se por extensa escadaria exterior, pela qual se pode penetrar em vários pisos. E se, no fundo, se podem ver a cisterna e o ergástulo (cárcere), de meter medo ao mais bem-intencionado forasteiro, lá no alto, espreitando pelas ameias, de onde em remotas eras, os defensores davam as boas-vindas aos atacantes com grandes caldeirões de líquidos ferventes (azeites, seiva de pinheiro, etc.), poderá agora desfrutar-se uma inolvidável paisagem, do melhor miradouro da cidade.

Da Rua Direita, subindo pela “Costa Grande” entramos no labirinto da Cidadela com ruas de aspeto mourisco e medieval, coroadas pelas 15 torres da muralha. A poente do castelo existe uma obra singular, um pelourinho com uma escultura zoomorfa “A Porca da Vila,” um fuste de coluna de granito, cravado no dorso de uma escultura pré-histórica, que lhe serve de pedestal e que representa um berrão. Os berrões eram um ídolo pré-histórico, cujo seu culto era uma prática caraterística dos povos transmontanos. O monumento é encimado pelo escudo das armas de Bragança e um capitel do qual partem quatro braços, cujas extremidades são decoradas com carrancas. Lá eram amarrados e castigados os réus de grandes delitos. No pelourinho, eram castigados os criminosos da época medieval. 

Adossada exteriormente à muralha, na sua face norte, acha-se a Torre da Princesa, que é tudo quanto resta do paço do alcaide, cenário de tragédias íntimas. Destas tragédias sobressaem a da infanta D. Sancha, irmã de Afonso Henriques, humilhada pelo adultério do marido e senhor da terra, Fernão Mendes, e a de D. Leonor, infeliz esposa, e injusta vitima, do muito ciumento D. Jaime, Duque de Bragança.

Não vos falarei aqui das várias versões da lenda da Torre da Princesa e dos seus amores proibidos, pois dela se ocupa a nossa página na internet. Foi nesta Torre que o 4º Duque de Bragança aprisionou a mulher, D. Leonor. Constava que era tão linda que não deixava que mais nenhum homem a olhasse, por isso, quando teve de se retirar com a Corte para Lisboa, assassinou-a.

  

Se visitarmos depois a Igreja de Santa Maria, de origem românica, do início do século XVI, nela se misturam o estilo renascença e o barroco, em consequência da transformação que sofreu aquando da sua reconstrução no século XVIII. Esta é também a época da pintura que se pode ver no teto da igreja. Podemos sair para a Igreja de São Bento (padroeiro da cidade) que tem uma pintura do teto, atribuída ao pintor religioso Bustamante, considerada uma relíquia do barroco nordestino.

 Mais abaixo, rica em arquitetura religiosa – mais do que na civil -, em que os estilos se confundem um pouco mercê das destruições havidas e posteriores reconstruções, a Igreja de São Vicente, primitivamente românica (século XIII) e reconstruída no século XVII. Embora o pórtico de acesso seja renascentista, esconde no interior uma capela rica em talha dourada e com uma abóbada pintada e igualmente dourada. À volta da nave tem interessante azulejaria do século XVII; lateral e exteriormente, encontra-se também um painel de azulejos, alusivo à proclamação, em 1808, do general Sepúlveda contra a ocupação napoleónica. De interesse ainda o artístico fontanário situado na parede deste painel. Mais tarde, foi convertido em hospital militar e em asilo.

 Foi nesta igreja, segundo reza a tradição, que teve lugar o casamento secreto do príncipe e futuro Rei D. Pedro com a dama galega Inês de Castro, abençoado pelo deão da Sé da Guarda. A mesma tradição conta que D. Isabel (Rainha Santa), que se dirigia para Trancoso para a celebração do seu casamento com D. Dinis, pernoitou na Igreja de São Francisco (a quem posteriormente doou grandes bens). Esta igreja era um convento, segundo a tradição edificado na presença de São Francisco de Assis, tema da literatura portuguesa e universal.

 Dignas de atenta observação são a Capela da Casa da Misericórdia, com um retábulo de talha dourada do século XVII, e a velha Igreja de Santa Clara (conventual), onde novamente se confundem o estilo renascença com o barroco, e que possui uma apreciável pintura no teto, datada do século XVIII.

 Depois podemos percorrer a Rua Abílio Beça onde ainda existem casas de portais estreitos, lembrando a herança dos judeus que aqui se refugiaram da Inquisição, antes de chegarmos ao célebre Museu Abade de Baçal[iii]http://viajar.clix.pt/com/tesouros.php?lid=316&lg=pt que merece prolongada visita.

 O Museu estende-se por dois andares e pelo jardim do antigo Paço dos Bispos. Nas suas bem recheadas salas podem apreciar-se notáveis obras de arte, desde alabardas da época de Bronze e esculturas zoomórficas pré – romanas a móveis dos séculos XVII e XVIII, retratos, pinturas, faianças, etc. É certo que muito tempo será necessário para o visitante percorrer o museu e admirar o recheio de todas as salas; mas também é certo que, numa próxima vinda à cidade, não prescindirá de rever o velho museu, que o carinho do abade de Baçal transformou num dos melhores deste país. O cruzeiro da Praça da Sé como referência central da cidade foi erigido em 1689, e depois reconstituído em 1931 aqui mesmo em frente à Catedral Velha, de fachada simples, com portal renascentista de influência barroca e um interior com retábulo de talha dourada e um arco triunfal dominado pelo brasão da cidade.  A velha Sé – Catedral, é um templo quinhentista doado aos Jesuítas, que aqui instalaram um colégio até à data da sua expulsão. Pouco depois, este templo foi doado à Mitra de Miranda, mais tarde transferida para Bragança. Também aqui o estilo renascença se deixou infiltrar pelo barroco, sendo de apreciar as suas janelas trabalhadas e, no interior, o rodapé de azulejo do século XVII, o retábulo de talha dourada e o teto da sacristia, apainelado e pintado com o arco renascentista - um arco triunfal - dominado pelo brasão da cidade. A igreja liga-se ao claustro onde funcionava o colégio jesuíta, mais tarde adaptado a liceu, a que dava vida uma imensa e azougada população flutuante de estudantes.

  Em frente da Sé e representando a arquitetura civil, ergue-se o Solar dos Caladinhos, com uma pedra de armas; pouco mais abaixo, encontra-se a Casa dos Vargas, com uma interessante fiada de varandas com grades de ferro, e a Casa do Arco, também ela velho solar, construída no século XVII, com pedra de armas e uma fachada dupla para duas ruas, ligadas por um curioso arco transversal coberto.

Mas a velha urbe transmontana tem mais para oferecer ao visitante. Um passeio pela Estrada do Turismo, ladeada de frondosas árvores, põe agora a cidade a seus pés, numa espetacular policromia, e permite-lhe ainda subir ao cabeço de São Bartolomeu, onde poderá entrar na pequena mas interessante ermida, de onde se desfruta um panorama inesquecível. Depois, percorrendo a estrada do circuito, está-se de regresso à cidade.

   

Em 1906 chegou o comboio a Bragança. O Espaço Museológico de Bragança fica situado no centro da cidade, na área da antiga estação ferroviária e ocupa a antiga cocheira de carruagens da que foi estação términos da linha do Tua. A exposição inclui diverso material ferroviário da Companhia Nacional e do Porto à Póvoa e Famalicão. Durante a década de 60 constroem-se a Escola Industrial e o Liceu Emídio Garcia.

Em 2004 foi inaugurado o novo Centro Cultural Municipal de Bragança que veio dar uma nova vida ao antigo edifício, com cerca de 400 anos. O edifício reconstruído - que também foi um Colégio de Jesuítas até 1759 e Seminário Diocesano até 1766 - dá agora lugar a um espaço adaptado às novas valências “orientadas para a promoção de atividades artísticas e culturais, como a escultura, a pintura, dança, fotografia, literatura, teatro, música, artesanato, entre outras”.

Na Casa da Cultura de Bragança está instalada uma biblioteca municipal, um conservatório de música e um espaço dedicado à “memória da cidade”. A biblioteca municipal ocupa uma área de 1.830 metros quadrados. O conservatório de música ocupa uma área de 591 metros quadrados. Já o espaço dedicado à “memória da cidade” é uma área onde se poderá ver, através de registos gráficos, documentação histórica, maquetas interativas e outras exposições, a “evolução” de Bragança enquanto cidade.

 

entrada Biblioteca na Praça de Camões                                   entrada Centro Cultural Praça da Sé

02. O TRATADO DE BABE

 Antes de sairmos devemos visitar um dos Tratados mais desconhecidos da História de Portugal e que por estas terras teve lugar: o Tratado de Babe (1387):

Com os seus 398 habitantes, distribuídos por 131 famílias e 168 alojamentos, Babe remonta a épocas ainda pouco definidas. Situada a 800 metros de altitude, 12 km a leste de Bragança, constitui a porta de entrada do planalto de Lombada. No século XVIII ainda eram visíveis os restos da antiga igreja de S. Pedro, localizada perto de Castrogosa a sul. Por este mesmo local e a sul o castro da Sapeira, passava a estrada romana que de Braga se dirigia a Astorga. Algumas estelas funerárias e um marco milenário documentam a romanização desta aldeia. Tem uma capela dedicada a S. Sebastião e outra que foi recuperada em 1991, dedicada a S. José. Em todo o caso, podemos afirmar, com toda a segurança, que a sua existência é muito antiga, como aliás havemos de referir mais adiante. Babe ficou célebre pelo tratado de Babe, realizado em 26 de Março de 1387, entre D. João I e o Duque de Lencastre.

Mas a sua importância afirma-se pela Comenda, trazida por Domingos de Morais Madureira Pimentel, fidalgo da Casa-Real que casou em Bragança com D. Luísa Caetana de Mesquita, seu 1º Comendador. E tal era o seu tamanho territorial, que El-Rei D. Sebastião por sua ordem mandou dividir em duas:

- a de S. Pedro de Babe e a de Nossa Senhora de Gimonde, como pedira o Duque D. Teodósio, em obediência a uma Bula do Papa, com data de 4 de Maio de 1561.

Recuando no tempo, convém dizer que a Comenda de S. Pedro de Babe tinha um rendimento de 250.000 réis, conforme Diogo Nunes. Quanto à reitoria que também foi, o seu rendimento era de 44.000 réis, posto à disposição da Sua Alteza Real, durante a Restauração de Portugal. Durante a fase posterior à guerra de Aclamação, muitos foram os contributos para restaurar o país, pelo que Babe, na pessoa de António Alurez de Magalhães, ofereceu, para as presentes necessidades de Sua Majestade, 20.000 réis, que era o salário que obteria pelo dia de S. João, bem como ainda deu poder bastante para cobrar dos comendados ou rendeiros das Comendas de Babe, e "se necessário tudo o que tenho venderei e darei de salário todos os anos, enquanto viver, já que eu, António Alurez, me sustentarei com o pé do altar, feito nesta terra".

Mas Babe está ligada à nacionalidade através do Tratado de Babe. Em dada altura da nossa história, D. João, Rei de Portugal, ofereceu auxílio ao duque de Alencastre, João de Gaudi, para provocar a divisão das forças e tropas de Castela. É assim que o Inglês desembarca na Corunha, seguindo depois para Melgaço, onde se avistou com D. João. Nesse encontro estipularam as condições do auxílio que, à boa maneira inglesa, comportava o casamento de uma das suas filhas, de nome Filipa com o nosso rei D. João, (já que com ele trouxe duas, vindo a casar a última em Espanha, para firmar outro acordo,).

Enquanto as tropas do Duque Inglês seguem para Bragança, consuma-se na cidade do Porto o dito casamento, após o qual o nosso rei haveria de juntar as suas tropas às de Alencastre, hospedado no Mosteiro de Castro de Avelãs.

Mas esta demora foi tal que se diz que o Duque resolveu seguir com o seu exército, no momento em que chega a boa nova da chegada do Rei. Com as tropas do Duque em marcha, seguem na direção de Babe, onde aguardam pelas do Rei D. João.

É então que, durante esta pausa, o refinado Duque negoceia aquele que seria o Tratado de Babe, que obrigava o dito Duque a abdicar de quaisquer direitos que pudesse vir a ter sobre a coroa portuguesa. Diz-se que a Lombada nunca teria estado tão engalanada, já que foram milhares os homens que por ali acamparam, distinguindo-se de entre eles, o Santo Condestável.

Deste acordo, mais uma vez Portugal pouco lucrou, já que o Duque inglês, após ter casado as filhas como já referimos, mais nada aconteceu e muito menos a tal divisão das forças castelhanas, há por isso quem afirme até que outra coisa não queria o Duque, que não fora casar as filhas.

O Castro de Babe ou Castro da Sapeira, nome ainda hoje usado, fica a 2,5 km a sudoeste da povoação e situa-se no cume de um outeiro inacessível a Nordeste. Tem de área 350x150 metros, é cercado por muro de pedra solta e nas partes falhas de defesa natural por três parapeitos e respetivos fossos, distanciados entre si de 54x150x320 metros. Tinha duas portas, uma a Sul e outra a Sueste. Mas no extremo do seu termo, outro castro há, a raiar com Milhão, a Castragosa, assim se chama, e perto dele as ruínas da igreja de S. Pedro, onde apareceram lápides funerárias que se encontram no Museu Abade de Baçal em Bragança.

E ainda segundo o Abade vamos à origem etimológica de Babe, Babi nas inquirições, tiradas pelo ano de 1258, quer dizer em árabe "portinha", mas porta, também pode derivar de Babon. Por sua vez, Babius, foi nome de poeta romano, donde também podia provir Babe. Já sob o ponto de vista militar, Babe é realmente uma portinha, relativamente ao lado de Bragança, enquanto pelo lado de Miranda, Babe apresenta fácil entrada ao invasor. O toponímico Babão é frequente, enquanto Babilon é apelido de uma família portuguesa do séc. XIII. Deste modo, não é fácil dizer qual a origem do nome, embora não custe acreditar na origem romana do seu topónimo. Para terminar e dado que a sua etnografia é rica, aqui lhes deixamos o convite para visitar o Museu Etnográfico de Babe. Nota: apontamento feito com a ajuda da obra do Abade de Baçal. http://www.bragancanet.pt/braganca/babe.html

  

 03. AS FESTAS DO NATAL (e as máscaras diabólicas)

 Na região compreendida entre os concelhos de Freixos de Espada à Cinta, Miranda do Douro e Bragança, intervém um tipo especial de mascarados no ciclo das Festas do Natal: os "caretos", "chocalheiros" . "zangarrões" – "mascarões". A despeito de se apresentarem como as personagens mais caraterísticas, eles atuam, incongruentemente, como meros mendicantes ao serviço da igreja, percorrendo as localidades a recolher esmolas, na companhia dos respetivos mordomos.

Em Bemposta (Mogadouro), onde o costume mantém plena vigência, essas personagens saem nos "dias do chocalheiro", a 26 de Dezembro a 1 de Janeiro, a partir da meia-noite. Máscara e indumentária são pertença da aldeia, e durante o ano ficam à guarda da igreja. O cargo de "chocalheiro" é leiloado todos os anos pelo mordomo da festa, mantendo-se os licitantes em segredo, atinge somas por vezes vultuosas e é exercido em cumprimento de promessas.

 

Na companhia dos mordomos, o "chocalheiro" percorre a freguesia batendo a todas as casas e recolhendo as esmolas que ninguém lhe recusa. Exercendo prerrogativa de exceção, entra não raro nas casas e delas leva o que bem entende, especialmente chouriços.

A sua atuação na rua é insólita e temida, sobretudo pelas mulheres solteiras, com quem permite liberdades licenciosas, e também pelo rapazio, que foge espavorido, gritando com todas as forças: "Vem aí o "chocalheiro" – Vem aí o diabo !".

De facto ele exibe vários atributos conotados com o diabo, além da máscara, o fato azul mostra uma série de listas brancas e vermelhas, uma caveira pintada nas costas, um rabo de crinas comprido, uma bexiga de porco pendente do capuz e uma figura de serpente a tiracolo.

A tradição local consagra a superstição de que, se alguém morre no dia em que ele deambula pelas ruas, vai para o inferno, o mesmo sucedendo àquele que por ventura morra investido naquela figura. Na verdade, a atuação destes "caretos" denuncia uma personalidade que os situa no domínio do fantástico.

Assumindo inteiramente uma natureza diabólica, a sua aparição impõe pelo terror a presença de um ser que se coloca fora da lei e das convenções, que escapa às normas quotidianas e autoriza o que é interdito. Aos olhos das gentes das raras aldeias em que sobrevivem, aparecem como uma verdadeira entidade mágica, sombria e inquietante, mas necessária. E pode pensar-se que sua aceitação se justifica por conter um sentido vago de proteção da comunidade, sendo através deles que se normalizam certas forças estranhas e difusas que nesse período se creem desencadeadas.

NB: O colóquio tem lugar no anfiteatro do Centro Cultural Municipal na Praça da Sé de Bragança (VER MAPA)
[i] D. Sancho I (O Povoador)

Nasceu em Coimbra a 11 de Novembro de 1154. Em 1166 (com apenas 12 anos) chefiou a expedição militar a Ciudad Rodrigo, tendo quatro anos mais tarde começado a colaborar ativamente no exercício do poder político e na gestão do reino. Casou no ano de 1174 com D. Dulce de Aragão, subindo ao trono em 1185. Depois das sucessivas perdas de terras para os Mouros (incluindo Silves e todo o Alentejo) D. Sancho I aproveitou este facto para realizar medidas respeitantes à povoação do reino e das terras devastadas pela guerra. Para este efeito introduziu a política dos forais (reorganização administrativa local do reino - formação de concelhos) e conseguiu fixar no Ribatejo estrangeiros entretanto chegados. Esta situação advém do facto de que os territórios não povoados eram fáceis de conquistar pelos Mouros, já que não havia neles qualquer tipo de resistência. Em consequência da sua habilidade política (em contraste com os desaires militares) D. Sancho I restaurou as finanças da coroa e promoveu a cultura, tanto em Portugal como no estrangeiro. Foi no seu reinado que se assistiu ao surgimento de um diferendo com a Santa Sé e com o Bispo de Coimbra. É atribuída, hoje em dia, a D. Sancho I a autoria da mais antiga cantiga de amigo dos Cancioneiros. D. Sancho I morreu no dia 26 de Março de 1211 em Coimbra, deixando como herdeiro do trono seu filho D. Afonso II.  

 [ii] PARQUE NATURAL DE MONTESINHO

Com uma superfície de 75000 hectares e nove mil habitantes, Montesinho é um dos maiores parques naturais do País. Criado em 79, é também um mundo a (re)descobrir por diversíssimas razões: pelas pessoas, pela fauna e flora, pelo património construído.

            Mapa de áreas protegidas do Norte

O Parque Natural de Montesinho situa-se no "limite" Nordeste de Portugal, englobando a área das serras de Montesinho e Coroa, portanto a parte norte dos Concelhos de Bragança e Vinhais. A região é caraterizada por uma sucessão de formas arredondadas, aqui e ali separadas pelos vales de rios profundamente encaixados. As atitudes extremas são: 438 metros nas águas de Sandim, no leito do rio Mente, e 1481 metros na Malhada da Cova, na serra de Montesinho.

Os rios mais importantes são, na parte ocidental, o Mente e o Rabaçal, na central, o Tuela e o Baceiro, e, na oriental, o Sabor e o Maçãs. A Serra do Montesinho dá ao nome ao Parque que encerra uma paisagem grandiosa, serena e, muitíssimo bela. Os terrenos são dominantemente xistosos, tendo no entanto expressão afloramentos de rochas básicas, alguns afloramentos de calcários, nomeadamente em Cova de Lua e Dine, e manchas graníticas na parte superior da serra de Montesinho e nos Pinheiros. Para apreciar superfície tão rica e bela, convém dispor de uma viatura e de alguns dias livres. A rede de estradas que atravessa o Parque é bastante boa, cruzando todo o tipo de paisagens e locais.

Entrada do Parque

Clima

Sob o ponto de vista climático a região situa-se na chamada Terra Fria Transmontana, apresentando, no entanto, aspetos de transição em pequenas áreas localizadas no fundo dos vales dos rios Mente e Rabaçal, e na parte ocidental, e junto a Gimonde e Quintanilha, na parte oriental.

O regime das chuvas é o mesmo em toda a área, apresentando a caraterística mediterrânica de chuvas na estação fria. De uma maneira geral a área é caraterizada por invernos frios e longos e verões curtos e quentes, daí o ditado popular «Nove meses de inverno e três de inferno».

Como Ir:

  • De Lisboa ou do Porto pela A1, pelo IP4 em direção a Bragança.
  • Da Zona Centro, apanhe a N102 em Celorico da Beira até Macedo de Cavaleiros e depois o IP4 até Bragança.

 

[iii] Museu do Abade de Baçal

 Fundado em 1915, o Museu do Abade de Baçal encontra-se instalado no edifício do antigo Paço Episcopal de Bragança, foi somando ao longo da sua história dádivas que acrescentaram ao seu espólio coleções de pintura, desenho, escultura, ourivesaria civil e mobiliário. O acervo do museu integra na sua origem as coleções de arqueologia e numismática do Museu Municipal e peças do recheio do Paço Episcopal. A este fundo inicial foram-se somando dádivas de amigos e artistas, entre os quais se contam na década de 30, as de Abel Salazar e da família Sá Vargas, nos anos 50, o legado Guerra Junqueiro e no início de 60, o de Trindade Coelho, que enriqueceram o museu com coleções de pintura, desenho, escultura, ourivesaria civil e mobiliário. Em 2001 foi adquirida uma importante coleção de máscaras recolhidas no terreno, a partir de uma investigação levada a cabo por Benjamim Pereira. As máscaras típicas das festas de Inverno no Nordeste Transmontano são o tema de duas exposições que assinalaram em Dezembro 2006, sexta-feira, a reabertura do Museu Abade de Baçal, em Bragança, encerrado há um ano para obras. Considerado um dos mais emblemáticos da região, o museu, que recebeu o nome do seu fundador, foi objeto de obras de ampliação e remodelação para melhores condições de visita e de exposição de obras e coleções até agora guardadas por falta de espaço. É o caso da exposição de pintura contemporânea com quadros de Malhoa e de Carlos Reis e ainda com 70 desenhos de Almada Negreiros. Segundo o diretor do Museu, Neto Jacob, estas obras vão ser expostas na nova área, que corresponde a um edifício contíguo ao antigo Paço Episcopal, onde funcionava o Museu, e que vai aumentar a área total em cerca de 40%. No edifício reabilitado funcionarão três salas de exposição permanente, que vão mostrar ainda uma prateleira do século XVIII e faiança portuguesa, sobretudo do século XIX e da zona Norte. Esta área contará ainda com um núcleo de pintura de Abel Salazar, o museu dispõe ainda de mais duas salas onde serão acolhidas as duas exposições, sobre máscaras transmontanas, uma intitulada «Caretos II», de João Vieira, e outra, comissariada por Benjamim Pereira, sobre «Os Rituais de Inverno com Máscaras». A máscara é o artefacto caraterístico das festas do Natal, ano novo e Carnaval nesta região, que escondem as diabruras dos tradicionais caretos, rapazes mascarados com trajes coloridos que, ao som de chocalhos, animam as aldeias nesta quadra. Santa Maria, a autarquia da zona histórica de Bragança onde se localiza o museu, criticou o muro com mais de dois metros erguido nas traseiras do edifício e dos jardins do mesmo, os únicos classificados na cidade.

NB: O colóquio tem lugar no anfiteatro do Centro Cultural Municipal na Praça da Sé de Bragança (VER MAPA)

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