Bragança, Portugal
2-4 outubro 2006
Quando em 2001
preparamos o início destes COLÓQUIOS ANUAIS da LUSOFONIA - sob a égide do
nosso patrono EMBAIXADOR PROFESSOR DOUTOR JOSÉ AUGUSTO SEABRA - queríamos
provar que era possível descentralizar a realização destes eventos e que era
possível realizá-los sem sermos subsídio-dependentes.
O ponto de partida
foi a descentralização da discussão da língua portuguesa e
as problemáticas da
língua portuguesa no mundo.
De 2002 em diante
os Colóquios têm-se realizado em Bragança, ainda na base da
descentralização, mas sobretudo devido à insularidade em termos culturais.
Portugal, como toda a gente sabe, é um país macrocéfalo; existe Lisboa e o
resto continua a ser paisagem. É muito raro os locais do interior, os locais
mais remotos como Bragança, poderem ter acesso a debates de considerável
importância sobre o futuro da língua. Estes colóquios são a única coisa que
se tem feito concreta e regularmente em Portugal nos últimos cinco anos
sobre esta temática.
Os Colóquios são independentes de quaisquer forças políticas ou
institucionais e asseguram essa sua “independência” através das inscrições
dos participantes contando com o apoio, ao nível logístico, da autarquia que
fez a sua aposta
cultural na divulgação e realização deste importante evento anual.
O povo de Bragança
tem ainda uma curiosidade. Naquele distrito fala-se um português ainda mais
vernáculo do que o português corrente. O certo é que em Bragança, fruto do
seu isolamento ao longo de 400 anos – o IP4 chegou a Bragança há menos de 15
– permitiu que falassem um português mais próximo do português correto do
que aquele que se fala nas grandes urbes e que serve normalmente depois para
padrão da língua portuguesa falada”
“A intenção
destes colóquios é diferente da maior parte das coisas que se têm praticado.
Ao contrário de outros colóquios e conferências tradicionais em que as
pessoas se reúnem e no final há uma ata cheia de boas intenções com as
conclusões, estes colóquios visam aproveitar a experiência profissional e
pessoal de cada um dentro da sua especialidade e dos temas que estão a ser
debatidos, para que os restantes oradores possam depois partir para o
terreno, para os seus locais de trabalho e utilizarem instrumentos que já
deram resultados noutras comunidades."
Estes Colóquios
podem ser marginais em relação às grandes diretrizes aprovadas nos gabinetes
de Lisboa, mas na prática têm servido para inúmeras pessoas aplicarem as
experiências doutros colegas à realidade do seu quotidiano de trabalho com
resultados surpreendentes e bem acelerados como se acabou de ver na edição
de 2005.
Pelo quarto ano consecutivo teremos o apoio inequívoco da Câmara Municipal
de Bragança que se prepara para editar em livro as Atas dos três últimos
Colóquios. Igualmente se irão manter as atividades paralelas como a Mostra
de Artesanato e a Mostra de Livros, quer de artesãos transmontanos quer de
artesãos da Galiza, bem como de autores portugueses (e de mirandês) e de
autores galegos, o que só vem demonstrar a vitalidade e a – cada vez mais
lata – abrangência destes Colóquios. Vai igualmente tentar-se organizar uma
Exposição de Fotografia/Pintura de artistas galegos/lusófonos.
Por outro lado, a
componente lúdica-cultural destes Colóquios permite, algo que não sucede em
eventos deste tipo: a confraternização cordial, aberta, franca e informal
entre oradores e presenciais, caraterizada por almoços e jantares de mais de
trinta pessoas e um passeio ao Parque Natural de Montesinho, a Rio de Onor,
à Cidadela, (e a Miranda do Douro em 2006) em que do convívio saíram
reforçados os elos entre as pessoas, elos esses que se irão manter a nível
pessoal e profissional.
As pessoas nos anos
transatos puderam trocar impressões, falar de projetos, partilhar ideias e
metodologias, fazer conhecer as suas vivências e pontos de vista, alargando
esta rede informar que são os Colóquios Anuais da Lusofonia.
Este o segredo por
trás da recente campanha que “salvou” o Ciberdúvidas em 2005, conforme foi
dito por um responsável do site numa alocução ao público presente nas
sessões do ano passado. Os Colóquios da Lusofonia neste momento já movem
cerca de duas mil pessoas através da sua rede.
Quanto ao
futuro da língua portuguesa no mundo não hesito em afirmar que “de
momento está salvaguardado através do seu enriquecimento pelas línguas
autóctones e pelos crioulos, que têm o português como língua de partida.
Enquanto a maior parte das línguas tende a desaparecer visto que não há
influências novas, o português revela nalguns locais do mundo uma vitalidade
fora do normal. A miscigenação com os crioulos e com os idiomas locais vai
permitir o desenvolvimento desses crioulos e a preservação do português”.
Por isso “não devemos ter medo do futuro do português no mundo porque ele
vai continuar a ser falado, e a crescer nos restantes países”. Para 2006
como tema central temos o problema da Língua Portuguesa na Galiza:
Subordinado ao
título Do
Reino da Galiza até aos nossos dias: a língua portuguesa na Galiza,
o
Colóquio da Lusofonia 2006 irá ter como tema central o problema da Língua
Portuguesa na Galiza: como se impõe uma língua
oficial artificial, que não é falada pela maior parte dos habitantes,
análise da situação, desenvolvimentos nos últimos anos, projetos e
perspetivas presentes e futuras. Ainda em debate estarão os problemas da
Tradução como forma de perpetuar e manter a criatividade da Língua
Portuguesa nos quatro cantos do mundo.
I - Temas:
1. Do Reino da Galiza até aos nossos dias: a Língua
Portuguesa na Galiza
subtemas:
1. Do Galaico-Português até hoje. Acontecimentos no
último século,
1.2.1. Como se impõe uma língua oficial (o
castelhano) que não é falada pela maior parte dos
habitantes – Análise da situação,
1.2.2. Como se regeneram os usos linguísticos duma
língua oficial menorizada, o caso galego – Análise
da situação,
1.3. A situação dos direitos linguísticos na
Comunidade Autónoma Galega
1.4. projetos, perspetivas: o presente e o futuro
da lusofonia europeia (Galiza e Portugal). Análises
comparativa e contrastiva.
1.5.- Linguística e sociolinguística
1.6. - Literatura nacional: língua e sistema
literário
1.7. - ONG culturais e processo normalizador na
Comunidade Autónoma Galega.
2. Tradução Estudos de Tradução e Interpretação -
que futuro?
subtemas:
2.1.
Tradutores e Ferramentas
2.2.
O Ensino da Tradução e a Tradução no Ensino
2.3.
A tradução como instrumento de preservação e
revitalização linguística
Objetivos:
Tema 1:
Como a sociolinguística tem mostrado nas últimas
décadas as línguas não mudam em bloco. Uma língua,
um dialeto, mesmo um idioleto não são homogéneos,
mas comportam variedades internas que são parte
integrante do sistema. Se o objeto da linguística
histórica é a mudança linguística, o objeto da
história da língua é uma língua em particular, na
sua existência definida temporal e espacialmente.
Conhecer a situação na Galiza desde as origens, e a
sua evolução. Conhecer as principais linhas de rumo
da literatura galega no período pós-Franco, em
defesa da cultura, dos valores solidários e dos
direitos históricos da Galiza. O conflito entre
reintegracionistas, normativos e os outros: um
genocídio da língua? Compreender o papel histórico
desempenhado pelos intelectuais e políticos galegos.
Extrair conclusões sobre os conflitos e respetivos
desenlaces da História. Permitir o debate aberto
sobre a língua na Galiza; tanto sobre a sua forma
gráfica, como sobre o conceito de língua (língua
isolada ou parte ativa do tronco galaico-português),
e a sua difícil situação atual.
A situação do galego é paradoxal. Se atendermos a
critérios linguísticos, é uma das formas do
português e, neste sentido, é uma língua nacional
-uma forma especial, pois foi na antiga Gallaecia
que nasceu a língua de Camões. Mas conforme ao uso
maioritário da população, quer no atinente à
ortographia, a formalização da língua ou
corpus, quer atendendo ao estatuto social ou
status, em relação ao castelhano, a situação do
galego mais se assemelha a um patuá (patois),
apesar dos avanços observados nas últimas décadas.
No V Colóquio irão debater-se os modelos de
normalização linguística na Galiza e a situação
presente, onde o genocídio linguístico atingiu uma
forma nova e subtil, já não através da perseguição
aberta e pública do galego, como em
décadas passadas, mas pela promoção social, escolar
e política de uma forma oral e escrita deturpada,
castelhanizada, a par de uma política de
exclusão dos dissidentes lusófonos. Uma Galiza que
luta pela sua sobrevivência linguística, numa altura
em que a UNESCO advertiu do risco de castelhanização
total nas próximas décadas.
Delinear linhas de ação para a propagação e
preservação da Língua Portuguesa na Galiza.
Tema 2:
Os problemas da tradução serão também debatidos como
forma de perpetuar e manter a criatividade da língua
portuguesa nos quatros cantos do mundo, algo que é
importante realçar pois as pessoas não se apercebem
muitas vezes destra vertente. Enquanto a tradução de
obras portuguesas não estiver suficientemente
difundida, a Língua portuguesa (com uma política da
língua que continua a inexistir) não pode
alcandorar-se ao nível de reconhecimento mundial
doutras línguas, quiçá com menos falantes mas
dispondo de políticas linguísticas. Começa a haver
um certo número de traduções, nas mais díspares
línguas, de livros de autores portugueses, mas é
altamente deficiente e deficitária. Uma das formas
de preservar a língua é através da tradução. A
tradução de obras permite a divulgação da língua,
muito importante na sua preservação.
A explosão das novas tecnologias permitiu criar
preciosos instrumentos de apoio à tradução. Graças a
eles, o tradutor torna-se cada vez mais eficaz,
melhorando o seu trabalho simultaneamente em
qualidade e rapidez. As tarefas de coordenação ou o
trabalho em equipa que caraterizam a profissão de
tradutor são igualmente simplificados mediante a
colocação em rede de competências. Surgiram vários
cursos superiores de Tradução mas o mercado aparenta
saturação, e a maioria desses cursos parece
desajustada à realidade profissional. Quem apresenta
soluções e propostas de intervenção?
Atualizado em 20-07-2006 |
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