5º Colóquio Anual da Lusofonia             Do Reino da Galiza até aos nossos dias: a língua portuguesa na Galiza                  regressar página inicial    
Sarau Musical : Concertos de Guitarra e Piano

Isabel Rei e Yerko P. Ivánovic- Barbeito, Obras de compositores galego - portugueses

Segunda-feira 2  - Outubro - 2006. 21h00 e  Terça- feira  3 - Outubro - 2006. 21h00

Auditório do Conservatório de Música, Centro Cultural Municipal - Praça da Sé

Apoio RDP-Antena 2, Arte Tripharia, Editora do Corpus Musicum Gallaeciae www.artetripharia.com 

01. PROGRAMA GUITARRA

 ISABEL REI

Segunda-feira 2 - Outubro - 2006. 21h00                     regressar página inicial    

 PRIMEIRA PARTE

 Suite «L’infidèle»                                                            Silvius Leopold Weiss (1687-1750)

Prélude

Courante

Sarabande

Menuet

Musette

Paysanne

 Rossiniana nº 1 op. 119                                                    Mauro Giuliani (1781-1829)

 

 SEGUNDA PARTE

 Farewell                                                       

The Right Honourable, The Lady Clifton’s Spirit

Semper Dowland Semper Dolens

The Most Sacred Queen Elizabeth, Her Galliard                John Dowland ( 1563 – 1626)

  Sonata                                                                                                  Leo Brouwer(1939)

Fandangos y Boleros

Sarabanda de Scriabin

La Toccata de Pasquini

 

Isabel Rei

Isabel Rei começou os seus estudos musicais no Conservatório da sua vila natal, Estrada. Anos mais tarde, em 1995, com 22 anos de idade rematou a sua carreira no Conservatório Superior de Música da Corunha, estudando com o professor António RochaPosteriormente foi bolseira da Fundación “Segundo Gil Davila” e recebeu aulas magistrais de músicos como José Tomás, John Mills, David Russell, Fabio Zanon, Margarita Escarpa, Marco Socías, Miguel Trápaga, Alex Garrobé, Eduardo Isaac, William Kanengiser.  Foi premiada no V Concurs per a Joves Intérpretes de Vila-Real (Castelló), no III Ciclo de Jóvenes Intérpretes da Fundação Pedro Barrié de la Maza, no Concurso Internacional de Guitarra de Cantábria (Comillas), no Concorso Internazionale di Chitarra Fernando Sor (Roma) e nos concursos internacionais de guitarra de Petrer (Alacante) e Linares (Jaén). Atualmente trabalha como professora de guitarra clássica no Conservatório Profissional de Música de Santiago de Compostela e cursa estudos de Posgrau na Hochschule für Musik «Franz Liszt» de Weimar com o professor e concertista Thomas Müller-Pering.  Realizou diversas colaborações com a Fundação Pedro Barrié de la Maza e com as Universidades de Compostela e Lugo, dando recitais na Corunha, Lugo, Ourense e Ponte Vedra, assim com em outras localidades galegas e portuguesas, em Bruxelas (Bélgica) e na Itália, onde participou vários anos no Festivale Internazionale di Chitarra di Udine. Recentemente, tem colaborado na primeira edição do festival de música Via Stellae” que comemora as diferentes rotas seguidas pelos peregrinos no seu caminho a Compostela.

02. PROGRAMA PIANO

Yerko Pétar IVÁNOVIC

terça-feira 3 - Outubro - 2006. 21h00                             regressar página inicial    

I Parte

Yerko Pétar IVÁNOVIC -BARBEITO (* Corunha, 1979)

Peças para piano em forma de prelúdio (2006) (**)

-1. Do M; 2. la m: 3. Re M; 4. si m; 5. Re M; 6. si m

Octávio VÁZQUEZ

Sonatina Op. 6 (1994) (**)

- Allegro molto

- Adagietto sostenuto

- Presto

Rudesindo SOUTELO (* Tui, 1952)

André (2006) (**)

1. Prelúdio da manhã

2. Alvorecer na janela

3. Valsa dos soldadinhos de chumbo

4. A Catedral imergente

5. Marcha da formiga atónita

Cândido LIMA (* Viana do Castelo, 1939)

Estudos para jovens (1960 / 64)

I - Jogo- dança

II - Canção coral

III - Scherzando

Rogélio GROBA (* Ponte- Aareas, 1930)

Tríptico heterofónico (1997) (*)

- Prelúdio

- Dança

- Final

II Parte

Rudesindo SOUTELO (* Tui, 1952)

Retrato duma moça na conversa (1981)

María- Paz PITA (* Ferrol, 1976)

Ítaca (2005) (*)

-I -II

Filipe PIRES (* Lisboa, 1934)

Cantiga variada (1977)

Yerko Pétar IVÁNOVIC -BARBEITO (* Corunha, 1979)

Sonatina para piano (2006) (**)

Rudesindo SOUTELO (* Tui, 1952)

Oppius dei (Quadros duma máfia musical espanhola) (1997)

I - Introitus

VIII - Mansuetus criticus

VII - Parasitus musicologus

VI - Garrulus musicus

Yerko Pétar IVÁNOVIC -BARBEITO (* Corunha, 1979)

Sonata 3 (2006) (**)

-I -II -III

(*) Obra estreada por Yerko P. Ivánovic- Barbeito

(**) Estreia absoluta

Yerko Pétar Ivánovic-Barbeito                         regressar página inicial    

Nasce na Corunha em 1979. Realiza os estudos de Música em Madrid, com prémio de honra fim de carreira em Piano. Em 1996 ganha o primeiro prémio no concurso de piano Jacinto Guerrero do Conservatório de Toledo. Compatibiliza seus estudos musicais com a licenciatura de Medicina e Cirurgia na Universidade Complutense de Madrid, onde finalizou no ano 2004 e atualmente é médico residente no Hospital San Carlos de Madrid. Ao mesmo tempo iniciou a sua carreira como pianista em salas de Espanha e do estrangeiro, com um repertório predominantemente contemporâneo espanhol e russo, acrescentado logo com compositores galegos e portugueses. O passado 17 de Maio debutou na Sala Sinfónica do Auditório Nacional de Madrid.

Recebeu conselho de pianistas como Ubaldo Díaz da Manhattan School of Music, Anna Jazstrebska do Conservatório Frederic Chopin de Varsóvia, Ferenc Rados, Miguel Ituarte e Katerina Gurska entre outros. Atualmente é aluno de Claudio Martínez Mehner, professor assistente de Dimitry Bashkirov na Escola Superior de Música Reina Sofía.

Como compositor as sus obras, publicadas pela editora Arte Tripharia, figuram já no repertório de intérpretes internacionais que as programam em diversas salas de Europa, Ásia e América.

Notas ao Programa

Desde que Rudesindo Soutelo, editor do Corpus Musicum Gallaeciae , me propusera fazer um concerto no Ateneo de Madrid para comemorar o Dia das Letras Galegas do 2005, fui integrando no meu repertório cada vez mais obras de compositores galegos e portugueses, e neste curto tempo fiz a estreia absoluta em concerto de mais duma dúzia de obras publicadas na citada coleção de Arte Tripharia. O concerto que apresento aqui é uma pequena mostra viva da criação musical galego-portuguesa recolhida no Corpus Musicum Gallaeciae .

O concerto inicia-se com a estreia de seis Peças em forma de prelúdio duma nova série de 24 que compus seguindo a tradição dos 24 tons cromáticos maiores e menores.

Nela evoco as ideias originais dos dois primeiros Livros de Prelúdios que já publicara na época de estudante mas agora desenvolvidas segundo a minha técnica compositiva atual.

Sobre um tema popular Octávio Vázquez desenvolve a Sonatina opus 6, de linguagem tonal e transparente com reminiscências de Poulenc ou Auric. O primeiro andamento, "Allegro molto", apresenta um inconfundível tema que se segue duma sucessão de acordes staccato a modo de contrapeso vertical da inicial linha horizontal.

Um novo tema popular nos acompanha no "Adagietto- Sostenuto", expressado primeiro em modo menor para depois comparecer em modo maior e daí atacar diretamente o terceiro andamento "Presto" que retorna ao staccato, e por vezes lembra os temas dos andamentos precedentes. Ainda que a obra é de 1994 só agora foi editada e aqui apresenta-se por primeira vez em concerto público.

De Rudesindo Soutelo (1952) estreio cinco peças que escreveu neste ano 2006 como prenda de anos para André , uma criança inquieta e impulsiva, mas com grande capacidade emocional e reflexões originais. Assim o "Prelúdio da manhã" é o acordar buliçoso; o "Alvorecer na janela" é a luz do novo dia a esclarecer o espírito; a imaginação criativa manifesta-se na "Valsa dos soldadinhos de chumbo" que transformam as espingardas em pares com quem dançar; desde a colina onde mora, o menino contempla a cidade de Tui coroada pela outrora fortaleza espiritual e agora diluída no criminoso urbanismo circundante que representa o seu inexorável declínio, e os sinos da Cathèdral Engloutie de Debussy ecoam em "A Catedral imergente"; a "Marcha da formiga atónita" são as peripécias duma formiga que se desvia do carreiro e dá com André, uma criança brincalhona

que gosta de lhe pôr tantos obstáculos no caminho que ela fica atónita, mas não desiste do seu empenho e afinal respira fundo e consegue libertar-se.

Os Estudos para jovens (1960- 64) de Cândido Lima constam de três andamentos. "Jogo-dança", com um início rítmico que semelha uma polka nos leva ao tema, baseado na sucessão -interrompida ou continuada - das cinco primeiras notas da escala de Fá Maior, numa linguagem que lembra a luminosidade brilhante de Jean Françaix.

Sobre o tema anterior desenvolve o Andante - cantabile da "Canção - coral" num contraponto cromático e introduzindo dissonâncias ocasionais para atacar o final, "Scherzando", mais virtuoso e num tempo giocoso con grazia que desenvolve o elemento temático do primeiro andamento mas expandindo-o até à escala completa.

Para concluir a primeira parte do concerto escolhi o Tríptico Heterofónico (1997) de Rogélio Groba (1930), o compositor galego mais prolífico, veterano e reconhecido do momento atual. A obra inicia-se com um "Prelúdio" a modo de variações, com um grande conteúdo virtuosístico vertical, e uma recorrência de acordes de 5 notas que constituem o leitmotiv . A "Dança" é algo mais repousada e guarda um caráter popular, muito frequente na obra deste autor. Tem duas secções contrastando o movimento ternário com o binário. O feche do tríptico com o "Final" volta ao virtuosismo vertical do primeiro andamento.

A segunda parte começa com outra obra de Rudesindo Soutelo, Retrato duma moça na conversa (1981). É uma peça breve (45- 50 segundos) mas muito intensa e de grande força, que levo no meu repertório desde que a conheci. De María- Paz Pita (1976) interpreto Ítaca , na qual se apresenta uma linguagem muito vinculada com a música espetral, onde um mesmo motivo é repetido múltiplas vezes, conseguindo um certo efeito hipnótico, especialmente durante o desenvolvimento da primeira das duas peças.

Sobre a linha melódica duma cantiga de S. João (Covilhã), Filipe Pires (1934) constrói a Cantiga variada (1977) como peça obrigada para o Concurso de Piano Cidade de Covilhã, e numa linguagem que combina modalidade e atonalidade apresenta sucessivas variações de grande dificuldade técnica ao aglutinar os elementos temáticos numa mesma linha partida -com grandes saltos interválicos - ou num mesmo acorde. O ouvinte pode identificar de forma continuada ao longo da obra a entidade do tema principal assim como a variedade rítmica da cantiga original (2+ 2+ 3+ 2+ 2+ 3+ 2+ 3+ 2+ 2).

A modo de autoencomenda para este concerto escrevi no mês de Agosto uma breve peça de virtuosismo em forma de Sonatina , que aprofunda na evolução da minha linguagem.

Oppius dei , escrita por Rudesindo Soutelo em 1997, é uma suite formada por doze quadros que retratam a urdume de poder e submissão que gera toda e qualquer máfia.

Dela escolhi quatro números e os seus títulos explicam-se por si mesmos. Tão só apontar o caráter de fanfarra do "Introitus"; a construção do "Mansuetus criticus" sobre um

motivo da Noite transfigurada de Schönberg, obra que fora censurada pelos guardiães da ortodoxia denegando sua estreia em Viena; o "Parasitus musicologus" é uma linha melismática sobre o Dies irae gregoriano; e remato com os obsessivos exercícios dum "Garrulus musicus" em todo o esplendor do seu estrepitoso estudo -notas falsas inclusive - sempre forte e stressato .

E para finalizar o concerto vou fazer a estreia da minha Sonata 3 (2006). Comecei esta obra em Outubro de  2005 e em apenas duas semanas concluí o primeiro andamento.

Logo depois de compor o meu Quarteto de Cordas nº 1 volvi à obra com um terceiro andamento que já tinha iniciado tempo atrás mas em Julho deste ano sofreu uma metamorfose destrutiva que me levou a recuperar a ideia primitiva duma frenética sucessão de tresquiálteras (tercinas) e linhas entrecruzadas sobre um fundo de agitação.

O resultado é uma virtuosística giga-tarantela muito diferente do moto perpétuo inicial. Isto levou-me a refazer o primeiro andamento reduzindo a extensão e poupando recursos.

O segundo andamento a modo de intermezzo foi o último em aparecer. Um motivo mecânico de 5+ 5 notas em escala está presente em toda a obra e procura a maior frialdade possível, em contraste com o motivo que joga a confundir mi menor com mi menor, refletindo uma clara amargura não isenta de angústia.

©

Yerko Pétar I VÁNOVIC -B ARBEITO

 

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