O silêncio da paixão
Helena Chrystello
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O silêncio da paixão
Helena Chrystello
Ao longo dos anos sempre soube que a Nini (Helena) tinha textos secretos do tempo antigo, antes de a proibirem escrever (1978-1992). Quando nos conhecemos em 1994 e soube que eu escrevia, uma das coisas que me disse foi nunca hás de ler os meus escritos enquanto eu for viva. De facto, assim foi, sem que se descortinasse a razão. Nem eu sabia onde estavam, nem quais os formatos ou modos de escrita, além daquilo que ela nos foi proporcionando, ao longo dos anos, em colóquios e outros eventos literários.
Era aliás, ela quem me fazia a revisão de todos os meus livros e dos artigos que semanalmente publico nos jornais, e sempre descobria uma falta de vírgula aqui, palavra em duplicado ou sem sentido, outra omissão acolá.
Quando, após a sua passagem para outra dimensão, andava a vasculhar, com a filha, qual o material didático e outro a doar e a aproveitar, deparamos num armário – ao lado da secretária principal – com blocos de notas e outros escritos contendo os tais arquivos secretos.
Anquilosado pela profunda dor, da recente perda, estava incapaz de ser eu a vasculhar o conteúdo daquela descoberta e vendo que se tratava de originais manuscritos da Nini, decidi entregar tudo nas mãos dessa amiga e escritora ímpar que é a Anabela Freitas (Mimoso). Foi ela que descobriu pérolas várias desde tenra idade, abarcando poesia (em francês, mas também em português) e entre outros escritos e compilações de obras, de pensamentos, de citações, estava esta novela, que resolvi dedicar postumamente, a mim mesmo, como forma de minorar a perda e esta ausência da autora que tanto me dói.
Agradeço do fundo do coração o imenso trabalho que a Anabela teve ao embrenhar-se em centenas de páginas manuscritas, que nos permitirá ter, finalmente, acesso a uma obra inédita daquela que humildemente sempre se dizia compiladora de obras de outros, preferindo sempre, com o seu enorme sorriso, com o riso contagiante, a sua alegria e vontade de viver (mesmo com a adversidade da profunda doença que a levou) manter-se na sombra dos colóquios e do marido, sem querer sequer chamar a atenção para o seu enorme talento, sabedoria e amor aos outros, incluindo o mecenato de vários livros em anos recentes.
Um enorme abraço de agradecimento ao Sr. Ernesto Rezendes que ao saber da descoberta desta obra inédita e desconhecida prontamente se ofereceu para a dar à estampa, em paralelo com a Antologia de Humor Açoriano, que ela esforçadamente começou a compor nos últimos três meses de vida.
Chrys Chrystello 2024